O ÔNUS DA IDADE
Prof. Antônio de Oliveira
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É próprio da roda rodar. Impulsionada, roda, roda, até... até parar. Assim esta vida. Seminal, nasce, cresce, gira, gira... até parar. Para uns, em largos anos, e, na velhice, cabelos grisalhos, pele flácida, rosto enrugado. No seu íntimo, um sonho, um olhar distante, uma lembrança tenazmente guardada, a lembrança de sua juventude. É que, sem piedade, o tempo, qual fogo avassalador, engoliu outro fogo, agora de chamas apagadas: a mocidade. “Amor – chama, e, depois, fumaça”, de um Manuel que foi Bandeira. Bandeira agora arriada.
Cinzas semiapagadas, em borralho, obturam os poros, ao som de estalos desoladores, apagando as paixões, que não mais crepitam num campo, outrora de batalha, agora incendiado, impotente. O veneno do tempo, arma química denominada decrepitude, irreversível, em fase terminal, escorreu silenciosamente, infiltrou-se sorrateiramente, inoculou lentamente, contaminou, poluiu o regaço da vida.
Como antídoto, contraveneno regressivo, apenas a memória, enquanto resta lúcida. Olavo Bilac, em versos, dá a entender que os homens, mais que Os Rios, desejam regressar. Mas, leito em fora, vida afora, correm e misturam pela corrente um desejo e uma angústia, entre a nascente de onde vieram e a foz que os aguarda. Agita-se a ansiedade de todos os que vivem de esperança, de todos os que ruminam a saudade.
Entretanto, tudo tem sua hora. No se antecipar a velhice, à catástrofe se junta o sentimento de culpa, cruel se torna a existência, vazia, sem conteúdo, sem sentido. Tolhe-se e se recolhe a libido. Por isso se acreditava apanágio dos deuses o privilégio de gozar eternamente sua infância, eterna juventude.
Não sendo deuses, como mortais temos prazo de validade, sem o elixir da eternidade aqui na terra. Lentamente fecham-se, para nós, as portas para a vida. Depois de certa idade, é bom pensar como São Paulo, malgrado todos os erros que cometera: Combati o bom combate. Missão cumprida. Conservei a fé.