A janela do ônibus

Depois de um dia cheio no trabalho, pego o ônibus das 18:00 h. Ocupo o último assento onde isolo-me dos outros passageiros. Encosto o cenho na janela e penso quantas pessoas já fizeram essa mesma cousa.

Do outro lado está a cidade parada, e de cá eu, vagando em lágrimas profundas. Lágrimas incapazes de fugirem aos olhos. Cerrei os olhos para não mais chorar.

Mas dentro de mim as entranhas confundem-se com sensações. Externamente, estou de pernas cruzadas, fones no ouvido, celular na mão e muda. Internamente, estou com as pernas pregadas no chão por chutes, ouvidos fincados para palavras afáveis e garganta rouca de gritos inespremíveis e ingritaveis.

Sairei deste veículo, e todos esses devaneios ficarão aqui.

A janela ficará aqui.

E outra vez, uma pessoa comum, neste veículo comum, entrará, colocará o cenho na mesma janela e chorará.

Pessoa Machado
Enviado por Pessoa Machado em 14/09/2019
Reeditado em 14/09/2019
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