A rádio-corredor
Ouvindo o noticiário, surge mais uma polêmica do governo federal: a volta do imposto sobre transações financeiras (não vou dizer que é a CPMF, pra não ser demitida daqui), e o cenário me fez lembrar da “rádio-corredor”.
Para quem não sabe, rádio-corredor era o canal de comunicação, digamos, clandestino, que existia na empresa. Naquela época, as grandes decisões eram tomadas as portas fechadas pela diretoria. Os projetos eram datilografados e apresentados em lâminas num aparelho chamado retro-projetor, mas era acabar a reunião e uma mosquinha atrevida saia zunindo nos ouvidos do povão o que iria acontecer, de bom ou de ruim, na empresa. As vezes tinham mosquinha que perdiam as cabeças por causa disso, mas a rádio-corredor permanecia lá, firme e forte.
Acho que a força da rádio-corredor estava exatamente naquilo que a diretoria queria preservar – o mistério das decisões - para pegar o povão de surpresa, tanto no que seria bom quanto no que seria ruim (aí muito mais mistério).
Na notícia de hoje pude perceber que a polêmica girou em torno do diz-que-diz -e-não-diz, normal do governo, acho que muito mais escancarado pelo deslumbramento das mosquinha da equipe financeira, com o tal PowerPoint, tão midiático ultimamente. Pronto, teve mosquinha que perdeu a cabeça.
A questão é que lá na minha empresa, as notícias da rádio-corredor atingiriam um público bem pequeno, já o imposto sobre transações financeiras (acho que vai ser pior que a CPMF) vai atingir exatamente todos os brasileiros. O governo federal pode até dizer que o PowerPoint não era pra ter sido exibido, mas que o povo inteiro vai marchar com um percentual sobre qualquer valor movimentado de seus míseros Reais, ah isso vai. Uma cabeça de mosquinha rolou, e milhões de brasileiros irão marchar.
Acho que hoje não existe mais rádio-corredor, pois as empresas são bem mais modernas, totalmente informatizadas e seus empregados trabalham numa relação de total confiança com seus patrões. Toda comunicação é as claras, sem mistérios. Bem melhor assim.
Mas como pessoa nostálgica que sou, sinto saudades daquela porta fechada cheia de mistérios e da nossa rádio-corredor!