Rei Apud e o 7X1

No ano de 1329, o Rei Apud, senhor de um pequeno país localizado na Ásia, foi desafiado por um exército rebelde, composto por jovens maltrapilhos. Decidiu consultar seu conselheiro para saber qual a medida mais adequada diante de preocupante situação. O Conselheiro indicou duas possibilidades e suas respectivas consequências. A primeira seria negociar com o exército rebelde, o que poderia garantir a paz momentânea, mas poderia também ser interpretado como uma fraqueza do reino que certamente, seria aproveitada por seus tradicionais rivais. A segunda alternativa seria massacrar os rebeldes, que além de esmagar o movimento traidor dentro do próprio reino, serviria como um aviso para quem ousasse desafiar o Rei Apud. O Rei exterminou aqueles rebeldes e isso foi o seu maior erro. A própria população do reino, que até então se mostrava indiferente aos rebeldes, chocada pela matança contra aquele grupo de jovens pobres, tomou em armas e depôs o Rei Sanguinário - alcunha pela qual o Rei Apud é lembrado até os nossos dias.

Inicio minha carta com essa história para mostrar duas coisas de fundamental importância: ter bons conselheiros e conhecer seu próprio povo, e eu, meu bom presidente, apresento-me como seu bom conselheiro, e pretendo nas linhas que seguem dissecar as virtudes e vícios do povo ao qual o senhor é o líder máximo. Atenção, pois realizarei esta análise a partir de uma partida de futebol, esporte muito popular em seus domínios.

O 7X1

Gentes de todas as nacionalidades e raças, recrutados nos quatro cantos do mundo, revestidos pela armadura teutônica e sua ideologia, marchavam, sólidos, pelo gramado. Anuladas as paixões, as individualidades, obedeciam as rígidas formações, compondo uma máquina, precisa, metódica, com as devidas qualidades e defeitos decorrentes desta ideologia.

A história ensinava que a disciplina, a confiança no método, a falta de imaginação, estava muito distante de qualquer certeza de vitória. Anos atrás, no campo de batalha no extremo oriente, os germânicos sucumbiram diante dos sul-americanos. Pois bem, falei dos alemães e agora discorrerei brevemente sobre seus antagonistas: os brasileiros.

A mais gloriosa história sobre os campos é a desse bastante peculiar país. Sua única mácula, a derrota diante dos uruguaios. Porém, esta derrota é facilmente explicada, naquela ocasião os brasileiros cometeram o pior dos erros, acreditaram no triunfo muito antes de travarem o combate.

Os brasileiros, ainda que desobedientes ou talvez justamente por isso, são dotados de prodigiosa criatividade, muito dados aos atos heroicos, é bastante comum vê-los lançando-se, corajosamente, ao ataque as linhas adversárias. Muito distantes do que foram as legiões romanas, quase idênticos aos clássicos guerreiros ibéricos. Fazendo uso uma vez mais do retrospecto histórico, os brasileiros são os que contam o maior número de triunfos no campos.

E então, como explicar o desfecho daquela batalha? Desfecho este ao qual o título deste texto alude.

A grande fraqueza brasileira é a absurda crença de que seu sucesso seja oriundo de um único indivíduo. Naquela partida, o Brasil estava sem Neymar, e assim são os brasileiros, quando não contam com sua figura messiânica, perdem a coragem, o ânimo, se tornam presas fáceis. Precisam de um general, não para comandá-los - eles são incomandáveis - mas para simplesmente inspirar-lhes rumo à vitória.

Presidente, para ter sucesso, basta duas coisas: A primeira, mate o líder do povo, mate um único rebelde e os demais caíram aos seus pés, a segunda, seja o senhor, não importante quão ruim seja, o único comandante ao qual os brasileiros possam reconhecer como tal. Tornar-se-ão tão dependentes do senhor, que como crianças pequenas, suplicarão por sua presença em qualquer dificuldade que se lhes apresentar.

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Esteban Donato Ardanuy
Enviado por Esteban Donato Ardanuy em 12/09/2019
Reeditado em 15/10/2019
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