NA FILA DO BANCO

* Imagem Ilustração : Google

NA FILA DO BANCO
Ysolda Cabral

Tenho mania de minimizar tudo, por mais que pareça difícil. Cheguei à conclusão que sou que nem a Pollyanna: faço o jogo do contente a todo instante, muito antes dela nascer em forma de livro. - Até desconfio que ela sou eu e que Eleonor H. Porter não me pediu autorização para escrever sobre mim.

Hoje, na fila do Banco, uma pessoa cantava baixinho um ''hum rum rum rum'', bem junto de mim. Aquilo começou a me irritar tremendamente. Procurei me afastar um pouco, mas ela pensou que a fila andava e se achegou ainda mais. Fiz de conta que o canto era de um passarinho engasgado, ou gripado talvez. Logo levantaria voo para outras plagas.

Não deu certo e a cada novo ''hum rum rum'' que eu escutava, mais irritada eu me sentia. Decidi lhe dizer o quanto àquilo incomodava. Contudo, ao me voltar, me deparei com uma figura frágil, toda enfeitadinha e alegre de uma senhorinha que, mais parecia uma criança. - Não abri a boca!

Tão feliz da vida ela me pareceu! Senti meu coração enternecido e fiquei a conjecturar o que fazia no Banco, aparentemente só...

Minha vez de pegar a senha chegou e não é que fiquei torcendo para que ela se dirigisse ao mesmo andar que eu, com sua cantoria e tudo mais!

Bem, fui para o meu atendimento, resolvi o que tinha que resolver e ao sair do estabelecimento bancário encontrei a senhorinha numa conversa acalorada. Pensei cá com meus botões: será que a discussão é sobre política? Fiquei muito admirada, até porque no meio em que vivo o assunto política não se discute. Ele paira no ar, porém não se materializa na voz de ninguém, a não ser nas atitudes. - Minha lista de desafetos aumentou consideravelmente nos últimos tempos.

Fiquei observando e refletindo o quanto sou covarde posto que, eu não teria a valentia que a senhorinha demonstrava no embate. E, após alguns instantes, ela encerrou a discussão com a seguinte declaração: '' E sabe do quê mais, pessoal? As perninhas do presidente são LINDAS!''

- Fui embora desolada!

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Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza, ou saudade sem pudor.
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