A MARCA DE CRISTO

Como estava um pouco atrasado para pegar ônibus, pedi pelo aplicativo um veículo que me levasse à estação de metrô mais próxima. Àquela hora o metrô não é lotado; é mais rápido e mais agradável que o ônibus.

Entrei no carro e depois dos cumprimentos que exigem as regras básicas de educação, começamos a viagem sem trocar nenhuma palavra mais. Já era uma da tarde e o sol estava fuleragem de quente, mas eu estava confortavelmente sentado no banco do passageiro desfrutando do agradável microclima possibilitado pelo ar-condicionado do veículo. Como imperava o silêncio, pude observar as pessoas que ficavam para trás enquanto nos deslocávamos.Estavam cheias de luz e tinham um brilho potencializado pelo molhado do suor que exalavam.

O sinal fechou e nosso carro se deteve num cruzamento. Meu olhar se fixou na seguinte cena:

“Passo lento após passo lento, vindo em nossa direção, sem camisa e pingando suor, carregando um tronco de madeira não sei pra onde nem pra quê, apoiado no ombro direito protegido por um saco de ração enrolado sobre si mesmo muitas vezes, um homem exibia uma feição agoniada e cansada. A tora de madeira era apoiada no ombro, mas uma das pontas arrastava no chão empoeirado deixando uma linha marcada entre as pegadas. Quem olhasse para as marcas após o homem passar teria a impressão de que um bípede grande com uma cauda igualmente grande e pesada teria passado por ali”

Isso me fez pensar se um certo homem muitos séculos atrás não deixou semelhante marca no chão.