Escola doméstica
Lembro o tempo da escola particular – aquela onde a gente aprendia a ler e escrever.
Na casa da professora, portanto escola doméstica.
Uma mesa comprida, um banco também comprido. Um quadro negro. Tudo na cozinha – às vezes na sala.
Antes de ir para o grupo escolar fazer o 1º ano do primário o aluno deveria saber escrever e ler.
Fiz isso com a professora Lurdinha. Morena sorridente. Mas exigente.
Tinha um dia na semana – não lembro qual – dedicado à sabatina. Era um dia temido pelos pupilos, dia das contas, da matemática.
Nunca tive intimidade com essa ciência, a matemática. Como eu, muita gente não se dava bem com ela.
Aprendi o suficiente: fazer contas de dividir, somar, subtrair, multiplicar. Alguma coisa de porcentagem.
Equação, logaritmos, seno, cosseno, cotangente, área do quadrado, do triângulo – bem, isso não manjo nada. Mas, claro, a matemática tem imensa serventia. E muita serventia, sem dúvidas.
Voltando à sabatina. Professora Lurdinha pegava a tabuada, livrinho com as contas de multiplicar e dividir até 10.
Arguia aluno por aluno. Ao primeiro perguntava: ----- Fulano, quanto é 4 vezes 5?
------ Vinte.
------ Muito bem, isso mesmo. Sente.
E dava-lhe o merecido ponto.
Continuava a sabatina. Alguns erravam.
------- Fulano, 6 vezes 3?
O interrogado pensava, pensava. Quando pensava, pensava, normalmente não sabia. Era comum essa postura, pensar, pensar. E não responder. Não sabia, na verdade.
Lurdinha o mandava sentar.
Várias vezes agi assim, nada responder. Fazer o quê? Não sabia...
Mas (sempre há um “mas” na vida) dava uma dentro, vez por outra.
Tínhamos que decorar a tabuada.
O problema maior era o nervosismo. Ficamos embaraçados quando estamos diante de pessoas. Até agora a psicologia não explica bem tal fobia, o embaraço frente aos outros. Todos agimos assim.
Bem, hoje sei que o conhecimento tem grande valor. Conhecimento é saber a ciência humana. Acima dela, no entanto, está a Sabedoria: a busca de conhecer si mesmo, melhorar nosso eu, procurar entender os mistérios de Deus.
A filosofia, embora uma ciência humana, tem o objetivo de ir atrás do saber. Daquilo que não é exato, ou possa ser.
Do que vai além dos experimentos.
Não sei se nos dias atuais ainda existam sabatinas. Quanto é 7 vezes 7?
Ah, Isso era terrível!