TRISTE COMPLEXO DE INFERIORIDADE.
O meu trabalho naquele hospital consistia em avaliar apenas a situação financeira de cada paciente e, principalmente, tentar descobrir se algum tinha direito a algum convênio médico ou à previdência social. Afinal ali só atendia as pessoas mais necessitadas e sem direito previdenciário, ou seja, era um hospital filantrópico, vamos dizer assim, porém aceitava todo e qualquer tipo de colaboração, principalmente, financeira. Então, durante o trabalho de rotina aparecia gente de todo o tipo, contando histórias e até mentiras variadas. Mas, por outro lado, havia até oportunidade de paquera, por incrível que pareça. Enfim, acontecia de quase tudo durante o expediente. Como, por exemplo, aconteceu uma visita de uma paciente que se dizia indignada com o tratamento que as pessoas davam aos negros. E esta senhora era uma afrodescendente e por isso mesmo tinha consigo vários exemplos de discriminação e preconceitos. Portanto, vivia muito angustiada, revoltada, parecendo até neurótica. Mas, pelos casos que ela me contou, algo me dizia que muita coisa era fruto da mentalidade dela que trazia uma frustração congênita. Segundo a própria, os seus pais sempre tentavam alertar os seus filhos sobre os problemas entre brancos e negros. Ela achava que por causa disto, a convivência entre as pessoas assim era como se fosse aquela situação do óleo com a água, chegando ao exagero. Então, conforme ela ia se desabafando, ameaçando até chorar, tentei alertá-la que o quadro não era assim tão trágico. Que, infelizmente, em todos os lugares do mundo havia este tipo de coisa e nunca ia acabar. Mas aquela senhora discordava e insistia em encontrar um tratamento para o seu caso. Como era algo psicológico, assemelhando uma depressão, ela foi encaminhada, em seguida, para se tratar em outro hospital.