DIÁLOGO COM A ÁFRICA

“Bendito é o fruto do teu ventre oh “África, menina bonita, cobiçada por vários moços europeus”. Tu que geraste Angola, um país grande e belo, como nos textos da 4ª classe”

…sabe, oh Mãe, lembras dos andados tempos de 1415 quando todos aqueles moços de lá do ocidente por ti s’enamoraram e quiseram desenvolver fortes relações de intimidade?

- Um Pouco meu filho, já me sinto velhinha e não me consigo lembrar de todas as coisas do meu passado.

Sim, Mãe, aqueles mesmo que mais tarde viriam a fingir que o interesse que os movia era o de ajudar-te a progredir!

- Parece que agora me lembro um pouco melhor, meu filho. Bons tempos de inocência. Vocês hoje em dia estão a usar uma expressão que também gosto: era feliz e não sabia. Assim que me lembras, lembro também com fortes sentimentos de saudade. Não ligue meu rapaz se dos meus olhos apressarem-se rios de lagrimas, não são de crocodilo, é mesmo só de saudade da inocência.

- Está bem, eu também costumo desejar ter vivido nos vossos tempos de inocência. Alguns hoje em dia usam a inocência para referir-se a virgindade.

- Nós também! Eu até era mesmo inocente quando aqueles moços começaram a chegar. Mas sabes mona ndengue, eles eram muito lindos e aliciantes, não consegui resistir por muito tempo e me deixei prostituir. Quando os olhos abri, era mbora tarde e já estavam todos a se aproveitar de mim. Aquilo já não era mais fazer amor oh meu filho, estava mesmo a ser violada.

- Cambada de malandros vigaristas aqueles mwadiês. E imagino que tudo ficou mesmo na impunidade, né isso Mãe?

- Até tive alguns bons filhos, abriram cedo os olhos e tentaram livrar-me das garras daqueles falsos amores. Uma delas, foi a minha Nginga, a Mbandi mesmo, acho que até já ouviste falar dela, né?

- Sim, desta ninguém pode esquecer. Até nas escolas fala-se muito dela, do Rei Mandume e outros filhos teus. Os professores de História tentam trazer-lhes sempre até nós. Acho que merecem mesmo o amor do povo.

- Mas eles não foram os únicos tal como te falei. Houve outros antes, e alguns depois dela. Leopold Sedar Senghor, Émile Zola, entre outros. Alguns até bem mais para cá, o Neto por exemplo que estudou com Savimbi, lembro deste último com muita saudade mesmo! Até choro às vezes.

Mas pronto, meu filho isto são outros quinhentos. Só para dar um passo atrás, aqueles pulas mesmo, só Deus sabe, eram tão atrevidos que nunca poderei deixar de lembrar. EU NEM SEQUER CONHECIA MEU CORPO. Repara só, 1982 descobriram a Angola dentro do meu corpo.

- Xeee, Mãe! Como assim?

- Haiwé mona ndengue. Não te assustes rapaz. É isso mesmo. E não ficaram por ali. Depois de me penetrarem, como se não bastasse, começaram também a penetrar a minha menina, Angola. Sexo com a filha alheia, assim mesmo aos olhos da mãe. Ngombiris de verdade.

- Estava mesmo a brincar, este meu susto não era de verdade Mãe, quem não conheceria Angola hoje?!

- Mas nem me fales de novo dela meu filho, é uma das que mais sinto saudades. Aqueles bandidos devem tê-la levado de mim. Já ouvi pessoas contarem entre si que há muito que ela morreu. De outros ouvi coisas piores, diziam que para nada se podia contar com ela.

Os pulas então! Ngana Nzambi! Para me iludir, diziam que ela era muito rica e linda. Nunca acreditei, não me cabia como uma filha de mãe tao pobre e que se desconhece, poderia chegar a tão rica e poderosa como diziam os brancos. Até muitos lutaram por ela, não sei qual dos bandidos ficou com ela.

- Olha mãe, África, na verdade vim mesmo falar com a Mãe sobre esta sua filha.

- Hawa, Dikwato Diame, como me vens falar mais da morta! Já celebramos a morte dela na Sanzala. Só de te olhar nestes teus olhinhos de amêndoa, até parece Aquele livro chamado “o segredo da Morta”

- Hahaha. Ayué Mamá, pra quê só esse susto todo! Trago notícias boas apenas. Ou será que a Mãe nada mais quer ouvir sobre ela?

- Não me mates. Nessa idade as pessoas morrem por tudo e nada. Diz la então.

- Bem, ela não está morta afinal! Na verdade, naquele dia que foi violada, em 1982, nasceram filhos daquele estupro. Até dizem que os netos da Mãe África eram valentes e mandaram para fora da vida dela os pulas que só queriam zombar dela, tudo porque a Angola contou-lhes o que eles fizeram com a Mãe África, eles até o chamavam de Cão, imagina só isso Mãe. Os conterrâneos dele o chamavam de Diogo só para disfarçar. Pena que os tais filhos também pouco fizeram para que ela se tornasse uma referência e ficasse mais conhecida, era tudo de patas para o ar. Mas o bom mesmo é que ouvimos falar de um novo Filho, seu neto neste caso Mãe. Dizem que veio “melhorar o que está bom e corrigir o que está mal.”

- Como assim mais meu Deus. Podes explicar melhor?

- Bem, na verdade a sua filha Angola gerou Neto, um primogénito amando pela maioria apesar de muitas criticas também. Despois um outro que não consigo lembrar o nome, mas o acusam de muitas coisas pouco boas. Dizem quase ter morto a mãe dele, Angola. Poucos lhe falam bem. Só depois veio então este que veio “melhorar o que está bom e corrigir o que está mal.” Andamos a ouvir ali aos becos que veio com muito ar, mas que está a começar a beber xixi de porco. Não sei se enlouqueceu, mas o certo que virou caçador de marimbondos.

- Nga Nzambi! Fale mais de minha filha e dos filhos dela.

- Por agora não poço mãe Africa, o dever me chama, devo ir às aulas no exterior do país e o voo saíra dentro de poucas horas. Prometo ligar quando chegar, e vir visitar a mãe África para mais detalhes nos próximos tempos.

- Meu filho, a escola é importante, se não fosse por ela eu te obrigaria a ficar. Vai embora se formar. Prometo guardar as tuas confissões junto do meu sacrário. Não te esqueças de telefonar para continuar a contar sobre minha filha Angola.

- Chau avó não morras antes da minha ligação.

- Vai com Deus meu filho. Se eu morrer te espero no paraíso para continuar a boa conversa.

TEM CONTINUAÇÃO…

Luzingo MALEMBE
Enviado por Luzingo MALEMBE em 09/09/2019
Reeditado em 24/12/2023
Código do texto: T6741286
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