A paciente silenciosa
Não é todo dia que um escritor tem a felicidade de ver o primeiro romance que escreveu se transformar em best-seller mundial, e já estar sendo adaptado para o cinema. O romance tem por título “A Paciente Silenciosa”. O cara feliz é Alex Michaelides.
Não é todo dia também, que um escritor pode agradecer uma atriz da grandeza de Uma Thurman por ajudá-lo a escrever melhor. Então, Alex Michaelides parece estar abusando da felicidade. Brincadeiras à parte, não haveria best-seller e a ajuda da Uma Thurman de nada adiantaria, se Michaelides não demonstrasse competência na arte de escrever. Ele demonstra essa competência com maestria.
À medida que a leitura de “A Paciente Silenciosa” avança, vamos percebemos como é fácil para o ser humano deixar a chave da racionalidade ir se desligando. O livro ajudou na minha modesta teoria. A racionalidade humana não é evolutiva. Foi uma convenção imposta quando as primeiras sociedades primitivas se formaram. As chaves do que é evolutivo são muito mais difíceis de desligar.
A pintora Alicia Berenson matou seu marido com cinco tiros. Esse fato é uma certeza do início ao fim do livro. Não haverá nenhuma reviravolta. Deste dia em diante Alicia deixou de falar. Vem do seu silêncio o título do livro. Diagnosticada com distúrbios mentais, Alicia é internada numa instituição psiquiatria.
Quando uma vaga se abre na instituição, o psicoterapeuta Theo Faber não mede esforços para ocupá-la. Ele quer ajudar Alicia voltar a falar. E alguns momentos podemos pensar que se trata de uma simples ajuda. Em outros, talvez, paixão ou obsessão. Acreditem, os dois estão num jogo muito pior.
Vamos conhecendo trechos do diário de Alicia, e os esforços de Theo Faber para fazê-la falar. De repente, o psicoterapeuta surpreende os leitores. Ele começa a narrar os seus problemas pessoais. Em visita a sua terapeuta, Theo é aconselhado terminar o seu casamento, mas não segue o conselho. E ficaremos nos perguntando: Alicia seria a paciente silenciosa se não tivesse seguido o conselho do seu terapeuta? Suspense!
O jogo continua quando Alicia entrega seu diário para Theo ler. Depois disso, ela volta a falar e conta a sua história sobre o assassinato do marido. A paciente sabe que está mentindo para o seu terapeuta, mas o terapeuta também sabe que sua paciente está mentindo.
Existe alguém que sabe ainda mais. Para esse alguém Alicia falando é um perigo em potencial. A solução vem numa overdose, mas Alicia é uma jogadora inteligente e escrevia um diário. Nele ela contou a história verdadeira. Não que escrever um diário seja recomendável. O final de “A Paciente Silenciosa”, mais que surpreendente é surreal. Porém, não podemos afirmar que seja uma impossibilidade fora da ficção.