A Areia de Pedro Américo* (28/04/2019)
Ontem, visitamos os mil e um castelos de Areia; ainda intactos. Em cada sobrado, coisas de duzentos anos arrumadas no mesmo lugar.
As intervenções turísticas não macularam (de todo) os lugares; pelos cômodos, parecíamos ouvir: cochichos, respirações ofegantes e gritos abafados. Só não havia música. Entrávamos sem muito alarde, em respeito ao que se foram primeiro. Os olhares ansiosos passeavam por cada canto, como que procurando os seus inquilinos. Mas, naquele berço não havia nenhum menino... Subimos e descemos escadas, num exercício de idas e vindas. Ficamos por alí o tempo suficiente para nos reencontrar com o passado e imaginar algum sentido... Não dá para seguir adiante, sem compreender o que veio antes de nós. Contos antepassados, tristes histórias de ninguém; apenas relatos que se sustentam pelo imaginário vigiado. Eira, beira, tribeira, sobreira... Na terra de Pedro Américo, tudo é dolorido e colorido. Os escravos passeiam dos engenhos às senzalas, sob a vigilância dos homens ricos; à porta dos casarões, os coronéis tinham as bençãos da igreja;; uma cidade inteira salva pelos pincéis de um gênio que não salvou o Cristo.... Areia, no brejo paraibano, arde em chamas no fim de tarde (e sempre é assim). Fugidias, as almas de todos os seus se atribulam por ter que reencarnar papéis no teatro de Minerva.