Publicações anteriores desta série: (pesquise pelo nome do autor):
  Crônicas de Brandão - Introdução
  Crônicas de Brandão - 1) O Mico da Lanchonete
  Crônicas de Brandão - 2) O Brado Retumbante
  Crônicas de Brandâo - 3) A Gincana da Torta de Maçã
  Crônicas de Brandão - 4) RRRaii RRRoberrrt!!!
  Crônicas de Brandão - 5) Putz...Melou!!
  Crônicas de Brandão - 6) Perseguindo a Polícia
  Crônicas de Brandão - 7) Acabou em Pizza! 
  Crônicas de Brandão - 8) Louça Suja se Lava em Casa!
  Crônicas de Brandão - 9) A Velhinha de Taubaté
  Crônicas de Brandão - 10) Matusa... para os Íntimos!!
  Crônicas de Brandão - 11) Rainbow...
  Crônicas de Brandão - 12) "Pois eu d'rei q'não!"
  Crônicas de Brandão - 13) Um dia de Fúria!
  Crônicas de Brandão - 14) Um Vilão Impostor
  Crônicas de Brandão - 15) In-Segurança de Condomínio
  Crônicas de Brandão - 16) O Estrangeiro

 
Crônicas de Brandão

17 - Morfélia (Epílogo)
 
       Já convicto de que seu mal não tinha cura, e que seu tempo nesta Terra estava terminando, Brandão resolveu atribuir um nome àquela que o viria buscar, dia mais dia menos, como fazia com tudo o que lhe era significativo na vida. Descrevia Morfélia como uma velhinha simpática, muito bondosa que lhe asseguraria toda a assistência durante sua passagem, encaminhando-o para o outro lado, onde muita vida o esperava. Uma vida sem o sofrimento da doença, em que seu aprendizado e sua missão continuariam, mesmo que em outra dimensão.

       Inquerido sobre quem era Morfélia - por aqueles a quem a mencionava sem maiores explicações - antes de responder ele cantava, irônico, uma adaptação de Ataulfo Alves:


      “Morfélia não tinha a menor vaidade, Morfélia é que era mulher de verdade...”

       Nesse tempo, trocávamos nossas impressões sobre como seria a morte. Argumentávamos que a morte não é o oposto da vida, pois o conceito de vida sugere o desenrolar de experiências ao longo do tempo. Já a morte é um evento, uma transição. Uma transição para uma vida diferente, mas sempre uma vida, compatível com seu nível de consciência alcançado até agora, graças aos seus aprendizados ao longo da eterna existência.
 
       Meu último e-mail para Brandão, já quando seu sofrimento era insuportável, transcrevo abaixo:

       
“Meu querido amigo e irmão,


Vejo a vida, neste plano de tempo e espaço, com toda a sua efemeridade, apenas como parte da Existência, esta sim, eterna. Portanto, nossos projetos pessoais, longe de se restringirem ao período de uma vida, devem se ampliar, para abranger a infinitude da Existência incorporando, portanto, a permanente elevação da consciência. 

Só assim as circunstâncias da vida assumem seu verdadeiro papel de servidoras da Existência, e a função de nossas experiências pode ser entendida como a de contribuir para nossa caminhada pela Eternidade, na qual, parece, estamos juntos há muito tempo!

Aquele que rejeita e se rebela contra as experiências desta pequena etapa da Existência ainda não sabe que tais vivências, sejam elas prazerosas ou sofridas, são apenas caminhos pessoais e distintos, mas que conduzem, todos eles, à mesma realização de nossa consciência em Deus.

Meu sentimento de compaixão, meu irmão, é muito intenso, mas semelhante ao que se tem em relação ao sofrimento de uma mãe no momento de dar à luz seu filho. Deste ponto de vista, qualquer que seja o desfecho deste seu calvário pessoal, dele nascerá uma criança... robustecida, saudável, consciente, sábia, amorosa, com sua energia vitalizada para prosseguir no seu papel de indutor do processo de crescimento do ser humano, nossa verdadeira missão neste Universo.

Meu amor em você! ”