VIRTUDE E OBRIGAÇÃO.

Já faz algum tempo, pelo desgaste dos valores e alteração das condutas desejáveis e praticamente obrigatórias, para não dizer legalmente, obrigações básicas dos cidadãos, do ser humano em todas as áreas de atividade, passaram a ser virtudes.

É ou não assim? A conceituação é diversa. É a procela do mar das normas ou sua calmaria.

Realmente hoje a obrigação caiu, escoou para o ralo da indiferença, desprezada, maltrapilha nas manifestações dos cidadãos normais da sociedade, e as virtudes desapareceram. Os santos e os heróis eram os virtuosos. Não os há mais.

Herói hoje é qualquer um, o povo na falta de ídolos nomeia e sufraga até mesmo bandidos como heróis, eles estão na história e nas celas alguns, e mesmo dentro desse espaço destinado pela sociedade, por representação da lei, para retribuir o que fizeram de mal e tentar reeducar - este o sentido da pena, binário - continuam a ter prestigio como ídolos.É assim em todo o mundo. Ídolos do mal a história teve muitos, não é necessário listar, mas a história os trata como ditadores ( que é o maior dos males, pois retira a liberdade de viver), genocidas, e geraram muitos sofrimentos.

Não há mais barreiras no sentido da conveniência, prudência e respeito à hierarquia de valores na maioria das sociedades. Nem por particulares, nem por gestores públicos. O critério do arbítrio sadio norteia a conveniência da caneta no setor público, e devia assim ser filho da prudência e conveniência, ainda que ato político que não retira requisitos insuperáveis.

No espaço público a caneta na mão envia aos cargos mais representativos nomes que tisnam as instituições pelas necessidades de competência que devem disseminar saber em oráculos de experiência, saber que só o exercício da função, após percorrer os impositivos caminhos tradicionais e legais exigidos, pode determinar. Por isso ouvia de meu pai: “quem acha que poder não é força é visionário, força da caneta e do fuzil”.

É a força da caneta que manda para tribunais superiores, SEM CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS - certame que concentra o mais vasto saber de todas as particularidades sociais - pessoas com total falta de sentimento de justiça e necessário preparo, divisionárias na hermenêutica da aplicação do direito, calcadas em interesses pessoais e políticos, exclusivamente.

Assim também em outras instituições de difícil ingresso, onde a aplicação ao estudo há de ser gigantesca, como no Itamaraty, carreira espinhosa e sutil, onde aprovado no concurso de Admissão do Instituto Rio Branco (IRBR), você entrará para a carreira diplomática como Terceiro-Secretário. Os cargos seguintes na carreira são: Segundo-Secretário, Primeiro-Secretário, Conselheiro, Ministro de Segunda Classe e Ministro de Primeira Classe (Embaixador).

É uma carreira difícil - como da magistratura - que ainda fora o árduo estudo e preparo demanda sacrifício de andar pelos cargos menores hierarquicamente em locais difíceis, para aos poucos assomar as maiores investiduras, cimentadas no empirismo necessário.

Ultrapassar essas barreiras pelo crivo do poder político não é desejável, conveniente, prudente ou sábio.

Khalil Gibran, questionado por um professor a razão de querer ultrapassar barreiras necessárias e normais em seus estudos, indo em frente fora do tempo, ao invés de subir um degrau de cada vez, conduta que lhe tiraria o aproveitamento e o mérito, respondeu: “professor, águias não sobem degraus”.

Mas são poucas as águias.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 07/09/2019
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