7 de setembro
Hoje é dia 7 de setembro. Nessa data, como nos ensinam na escola, comemora-se o dia da Independência do Brasil. De minha parte, na época do primário, sempre vi a data, do mesmo modo que o Natal e a Páscoa, mais como feriado que tempo para saudar sua historicidade, digamos assim. Por isso, decepcionava-me quando essa data caia em fim de semana. "Poxa, mais um feriado perdido.", dizia-me em solilóquio. Hoje continuo lamentando um feriado nacional cair em fim de semana, sobretudo em um sábado. Continuo a enxergar o 7 de setembro esmaecido, sem a seriedade que a escola nos cobre a data, que, a meu ver, tenho-a bem próxima do Carnaval e do Dia da Confraternização Universal, feriados igualmente que lamento quando escolhem um fim de semana para se apresentarem.
Acabei de olhar o calendário apregoado aqui na parede de casa e percebi, logo abaixo do "S" de sábado e destacado em vermelho negrito, o 7 de setembro de 2019. Talvez o mais vermelho de todos os feriados nacionais, ganhando do vermelho negrito do Natal e do da Páscoa. Pelo que tenho visto nos anos anteriores, penso que a data tem um peso midiático equivalente ou até superior as demais festividades nacionais. Vide os desfiles cívicos desfilados na tevê, como comumente ocorrem nesta data.
O 7 de setembro, nos últimos tempos principalmente, tem servido de bandeira para divulgar um sentimento de nacionalismo que, desde eu menino, não noto com facilidade em nossos compatriotas, e hoje ainda menos. É bem verdade que sempre me vi mais como alagoano que como brasileiro; que o hino nacional nunca compreendi em suas minucias nem em suas generalidades; que prestei serviço militar por ser obrigação constitucional e não por livre e espontânea vontade; que meu mundo sempre teve e, felizmente ainda tem, aroma de quintal de casa e de café de vó; que quando ouço alguém falar a palavra "patriota", penso o sujeito está referindo-se a pato e afins. Percebe-se, assim, que essa data pouco me representa os fatos que, na escola, me disseram significar.
Um dia, na minha infância, minha professora de Historia nos deu uma aula a respeito do 7 de setembro. Falou-nos sobre as nuanças dos acontecimentos que envolveram o momento, da bravura dos envolvidos no ato, do significado histórico da data. Não entendi nada, e perguntei à mestra: "Professora, o 7 de setembro deste ano cai em que dia da semana?". A mestra ficou terrível, mais que o de costume, e me deixou de castigo. Não adiantou eu ter alegado ter sido mal interpretado, dizer-me arrependido da pergunta, que Deus é misericordioso e que, portanto, pelo Amor de Deus, eu fosse inocentado do crime que cometera. Nem um desses argumentos livrou-me da punição. Paguei minha pena, mas ainda hoje me tenho como inocente.
O castigo não me dissuadiu da opinião de que nós, brasileiros, somos essencialmente muito influenciáveis e de péssima memória. Talvez sejamos jovens demais para compreender o significado da palavra "Independência" e quanto ela nos custa. Talvez sejamos jovens demais para descobrir que nossa comida é plantada fora do país; que nossa energia é comprada e que não advém do Sol; que nossa bebida é estrangeira e que, não raro, é responsável por estragar (quase) tudo, inclusive alguns 7 de setembro. Talvez sejamos jovens demais para compreender tudo isso e, como se não bastasse, as lições de álgebra, as linhas invisíveis do Equador, a soletração da palavra "otorrinolaringologista". Talvez devêssemos voltar aos bancos do primário, em silêncio, com muitas dúvidas e poucas perguntas a fazer, para não incomodar os mestres com nossa ignorância, e nos salvar dos castigos do homem e dos de Deus. Só não pode ser hoje. Hoje, não. Hoje é sábado.