Semântica de Brasília
Há pelo menos cinco horas que estou sentado em frente a tela do computador. Pesquisei sobre tudo o que eu quis e até sobre o que não precisava. E não consegui escrever o conto policial que tanto quero produzir, cheio de intrigas e mistérios, com mulheres lindas envolvidas em trapaças e com homens crápulas metidos em ternos sofisticadíssimos. É para rir mesmo, mas não vou escrever comédia, é tragédia. Cinco horas...
Existem expressões que foram criadas para a interlocução virtual, a internet é cheia de letras que significam alguma coisa que todo mundo entende e que não está em dicionário nenhum. Rir, na rede social, é representado graficamente por uma sequência de letra K; Quanto mais intensa for a risada, mais K’s se colocam na conversa. E o enfado? O descontentamento (ou fastio) é grafado na net com um “Afff”. Se o colocutor estiver aborrecido, coloca-se um “Aff” curtinho. Mas se for o caso de um imenso desgaste, uma verdadeira letargia, a sequência dessas letras pode ser muito, muito grande.
Como assistir ao telejornal e ver as trapalhadas do Bolsonaro frente aos líderes mundiais... Ou eu devo encher uma linha com “Aafff” ou começar a explicar como a palavra “Preguiça” muda de sentido semântico; e a coisa piora: ver o ministro Paulo Guedes ter que publicar uma nota se desculpando porque fez uma “brincadeira” com a mesma burrice que o Mito cometeu, realmente, tenho que publicar uma gravura com um “Aff” enorme sobre a palavra preguiça repetida em toda página como marca d’agua. Paulo Guedes pede desculpas por dizer que Brigitte Macron “é feia mesmo”. Feio mesmo é o que eles fazem em Brasília. As decisões negativas que afetam toda a população a longo prazo que são realmente feias.
Vejam por exemplo o caso das aposentadorias especiais, quantas pessoas no território nacional são afetadas por decisões que circundam esse tema? Se os policiais militares e civis não possuem prerrogativas para garantia desse direito, quem mais terá? No caso, uma decisão afetou diretamente à minha família. Alguns dias atrás, o STF reafirmou que os guardas civis municipais não têm direito à aposentadoria especial por exercício de atividade de risco. Isso sim é feio, senhor Paulo Guedes porque são centenas de milhares de famílias que verão seus provedores trabalharem até alta velhice portando suas armas nos coldres sem condições físicas de serem utilizadas. No futuro, eu estarei com 83 anos e envergando a farda azul marinho nas ruas da cidade. E brincam com personalidades do cenário político internacional, chamando a mulher do Macron de feia... olhem-se num espelho, homens de Brasília...