Meus amargos trinta anos de viola
Com sete anos de idade eu já venerava a viola porque eu ouvia todos os cantadores cantando repente na rádio rural de Mossoró e eu ficava pensando em cantar também em ser repentista um dia e cantar como aqueles grandes poetas que faziam repente tão bem. A minha família não mostrava nenhum interesse pela minha vocação de menestrel porque o meu povo não sabia o que era ser cantador e sobretudo viver de uma viola feito um andarilho sem rumo certo. O fito do meu povo era me ver doutor em qualquer coisa e nunca me tornar um repentista profissional andar com a viola mundo afora mendigando o pão. Tive muita dificuldade de exercer a profissão de cantador pois nunca encontrei apoio na minha própria família mormente nos meus vizinhos. Eu sempre levei a sério e assim cantei trinta anos sem ganhar numerário e tampouco tive fama como repentista. Cantei com grandes repentistas de nome com Juvenal Evangelista, Agostinho Praxedes, Custódio Sebastião, João Paulino Medeiros e muitos outros segréis. Os cantadores da minha época foram famosos, como Antonio Nunes de França, Juvenal Evangelista, Eliseu Ventania, João Liberalino, Nestor Bandeira, Francisco Pedras de Oliveira e José Mota Pinheiro. Com dezoito anos fui para a capital Fortaleza para ser matriculado no colégio Pia Marta, no entanto não fiquei lá e logo voltei a minha terra já de plano feito em cantar repente e viajar com jograis da viola e não estudar mais em colégio nenhum. Depois de vinte anos abracei a viola e viajei cantando por todo o vale do Jaguaribe para gregos e troianos. A tia Marica não falava nada embora a Teté não visse com bons olhos a minha vocação literária e sempre criticava a minha ausência da escola e o apego enorme que eu tinha pela viola. Foi muito difícil eu viver de viola num meio rude, num ambiente onde o meu povo não sabia o que era cantar nem tinha um só respeito pela minha vocação repentina antes vinha o deboche da minha própria gente contra a minha ideia artística ou literária. Eu sempre pensei de ser aquilo que realmente Deus me deu e não deixar me levar por opiniões alheias e muitas vezes tolas. Os meus parentes mais próximos foram meus maiores rivais, eu tinha que suportar tudo isto para não haver contenda. Não sou doutor em coisa alguma entretanto me sinto muito feliz porque sou um artista pobre contudo honrado.