Má sorte

Há pessoas com vida mais atribulada que outras. Veem à Terra, como qualquer outro ser humano.

Aqui, no entanto, encontram dores, amarguras, frustrações, doenças, decepções (e demais sofrimentos), inimigos, algozes.

Sofrem um bocado, sem saber o motivo, o porquê.

Outras são bem aquinhoadas. Tudo à mão, prato cheio, “de boa”. Têm aqui, neste mundo, suas recompensas. Beleza, tudo bem. Dizem que dois homens mexeram com a estrutura da humanidade. Jesus e Marx, ambos judeus. Por suas doutrinas são temidos, são admirados. Ou odiados. Impossível agradar a todos.

Efigênia, nossa protagonista, teve sorte desfavorável.

Ao menos até agora não se tem explicações convincentes sobre casos assim, de padecimento, má sorte, desgraça, de um lado.

E vida boa, fartura, prazeres, até libertinagens, de outro.

Uma música de Tim Maia diz: “Na vida a gente tem de entender, que um nasce pra sofrer, enquanto o outro ri”.

É assim...

Espíritas garantem que o sofrimento é para purgar pecados, coisas ruins que fizemos (e fazemos). Quem sofre está pagando por erros de vidas anteriores. Alguns discordam disso.

A vida dela – Efigênia – foi martírio. Criança, foi morar com a madrasta, Expedita. Naquele tempo – anos 1940 – as madrastas temidas. E muito.

Impunham respeito pelo medo, pela coação. E violências, psicológica e física. Ela, Efigênia, passou por isso.

Serviços da casa eram para ela, limpeza, cuidar de roupa, fazer comida, ser babá.

Cresceu. Adolescente, foi para a capital. Novamente foi cuidar de casa. Teve duas filhas. O companheiro, o pai, arribou, foi embora. Arrumou outra - e isso é dolorido para qualquer um, ser trocado por outro (a). Humilhante.

Efigênia conheceu outro.

Teve três filhos.

Este também ganhou o mundo, a deixando com os 5 filhos. Outra frustração.

Arrumou emprego num hotel, trabalhando ora de dia, ora à noite. Conseguiu criar os filhos, sozinha. Uma dureza.

Daqui e dali alguma alma caridosa a ajudava.

A filha mais velha casou-se. O marido de vez em quando tomava umas e ficava agressivo. Isso trazia transtornos à família, logicamente. Alcoolismo é um problema, e grande.

Bem, certamente outros sofrimentos castigaram Efigênia, não descritos aqui. Depois adoeceu da coluna, ficando com o corpo um pouco defeituoso.

Tornou-se pessoa cética. Fria, revoltada. Não revolta aparente, mas por dentro, interna.

E, por cerca de 4 anos, sofreu com um câncer. Tinha dores fortes.

E faleceu aos 72 anos.

Ela não foi pessoa ruim. Quem pôde ajudar, ajudou: Os filhos, os genros, conhecidos.

A vida dela, porém, foi assim, cheia de dores, desencantos, lágrimas.

Não apenas ela teve tal destino. Claro que não.

Milhares e milhões, neste mundo, tiveram (e têm) existências semelhantes. Padecem muito, sofrem o que não merecem.

E felizes os que nascem “virados para a lua”, na fartura. Devem a todo instante ser gratos a Deus pela boa sorte.

Salatiel Hood
Enviado por Salatiel Hood em 05/09/2019
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