JOVENS BONITAS E OPORTUNISTAS.
Estava pensando há poucos dias num fato inusitado e até certo ponto engraçado que aconteceu comigo e meus colegas seminaristas. Naquela ocasião, estudávamos num colégio da cidade e morávamos no seminário. Pois este tinha adotado o regime semi-internato. Quer dizer, mesmo estuando com os demais jovens que não tinham nada a ver com o celibato, ou seja, eles namoravam, dançavam, fumavam, enfim, curtiam a vida de maneira bem diferente da nossa, que simplesmente se restringia do colégio para o seminário e a igreja. Mesmo assim, todos nós acatávamos as ordens, pois afinal, era esta a nossa vocação.
Então, certa ocasião, chegou naquela cidade - Oeiras - Piauí - um ótimo e grande circo, por sinal foi montado ao lado do ginásio em que estudávamos. Tudo bem. Apenas coincidência. Acontece que o nosso reitor, segundo ficamos sabemos pelos nossos próprios colegas de ginásio, esteve assistindo ao espetáculo circense. Então resolvemos fazer um pedido para o tal espetáculo. Ele nos prometeu e cumpriu. Esperou só uma oportunidade adequada. Certo dia, aproveitando que aquele circo estivesse fazendo uma grande promoção, o que deveria ser, com perdão do trocadilho, pra mocinha - ou seja - quando o cavaleiro que entrasse acompanhado a respectiva dama não pagaria. E foi aí que as nossas colegas aproveitaram e quando nos viram na fila para entrar, automaticamente, sem pedir licença, cada uma se atracou, literalmente com um seminarista e os respectivos pares iam entrando no cenário circense. Chegando aqui, cada uma foi para um lado simplesmente agradecendo com um beijinho no rosto ou não, dependendo do grau de timidez de cada um (a); com esta situação inusitada tivemos que dar risada antes mesmo do palhaço fazer a primeira palhaçada, pois já tínhamos acabado de cumprir o seu papel. Ou seja, aquilo para nós não passou de uma simples e grande palhaçada no bom sentido. Afinal, mesmo que algumas delas tivessem uma vontade incontida de namorar algum de nós, devido a nossa opção vocacional, estávamos impedidos de corresponder algo neste sentido amoroso. Pensando bem, o que fizemos naquela oportunidade não passou de mera caridade, o que era o baluarte da nossa vocação sacerdotal, diga-se de passagem.