O homem autocentrado
Há algum tempo um homem foi à praia. Depois de descer do carro ele viu pelo vidro fumê um homem estranho que o acompanhava com o olhar. Estava envelhecido, mas lembrava-o a si mesmo. Não teve coragem de mirá-lo de frente. Andou até uma barraca na praia e lá se sentou acompanhado de duas mulheres mais velhas. Em uma delas via o rosto de sua mãe. Ela e sua tia conversavam sobre teorias filosófico-espirituais que o não interessavam. Ele se levantou e foi caminhar pela areia branca da praia que tem o nome da musa índia cujo nome foi dado ao romance indianista de José de Alencar. Enquanto caminhava procurava olhar nas pessoas a sua própria imagem. O que elas diziam sobre ele através da expressão. Mas que bobagem, ele pensou. De vez em quando olhava para as barracas na esperança de ser reconhecido por um conhecido. Mas quanto autocentrismo! Voltou desapontado por não ter encontrado ninguém que conhecesse na praia. Antes de entrar no carro, viu aquele homem novamente acompanhá-lo com os olhos. Mas não estava mais velho, havia rejuvenescido, parecia mais tranqüilo. Quando chegou em casa, antes de tomar banho, olhou-se no espelho e percebeu que aquele homem era ele.
H. P. Simões