Foi melhor assim
O hálito da noite ainda rescendia a álcool, quando te beijei pela última vez.
Vi uma lágrima rolando e tentando lavar o restinho de sangue no canto da tua boca.
E pela primeira vez, ouvi dos teus lábios a palavra “Adeus”...
Na segunda vez, foi com uma mala marrom nas mãos que teu hálito de hortelã veio me dizer que estavas partindo.
Resolvi que seria a última vez que eu veria aquela mala nas tuas mãos, de frente ou de costas, tanto faz, não queria vê-la mais. E fechei os olhos, numa atitude de abandono ao sonho, deixando-me levar pra longe enquanto falavas e saías.
Virei o corpo de lado na cama, dobrei o travesseiro pra levantar mais um pouquinho a cabeça, e fiquei pensando em como faria pra levantar dali. Sem vontade, sem força, sem motivo... meus motivos de viver foram contigo, naquela velha mala viajada.
Fiquei com meus sonhos, apenas.
O sol invadia o quarto. Manhã ia alta, quando o cheiro de café vindo da casa vizinha me fez lembrar que outro dia começava, que precisava ir-me também, antes que o mofo destas lembranças todas me assumisse.
Quero lavar o rosto, mas na pia do banheiro saem lágrimas ao invés de água, e ela parece chorar de saudade, já tão cedo, ainda manhã...
Escovei meu melhor sorriso, e coloquei na cara. Olhei no espelho, penteei os cabelos e os perfumei com sândalo. Vesti-me e saí.
E o sol, aqui fora, me dizendo o tempo todo:
Foi melhor assim, foi melhor assim....