Muito além da Amazônia
De repente, com os incêndios e as queimadas os currais ideológicos brasileiros se transformaram em “especialistas” na questão ambiental. Na verdade, ninguém está interessado em defender a Amazônia da forma correta. A única coisa que importa é defender a sua ideologia. Os meios usados menos ainda.
Quero saber se esses especialistas de plantão tomarão conhecimento, e o que farão em defesa do planeta quando em 25 de setembro for divulgado o relatório do “Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas”. Será o quarto relatório do ano.
Sabemos que Donald Trump não acredita nas mudanças climáticas e no aquecimento global. Cegamente o presidente brasileiro tem seguido seu guru americano. Certamente dirão que os dados são mentirosos, e os especialistas ambientais um bando de idiotas. Os currais ideológicos novamente cairão na conversa.
Com 900 páginas, o relatório mostrará de forma dramática as consequências para o planeta causadas pelas mudanças climáticas e pelo aquecimento global. O cenário nem é para daqui alguns séculos. Já se fala em questão de poucas décadas. Será o mundo deixado de herança para os netos da nossa geração.
Hoje, quando se pensa no mar logo vem à mente um banho gostoso. Em 2050 os oceanos serão um verdadeiro pesadelo para as cidades litorâneas do planeta. Cidades como Miami e Rio de Janeiro serão recordações de cartões postais A elevação do nível do mar e os furacões farão 280 milhões de pessoas deixarem o seu habitat.
Até 2100, a camada de solo que fica o ano todo congelada conhecida como “permafrost” praticamente desaparecerá. No hemisfério norte esse degelo criará uma “bomba de carbono”. Uma mistura de dióxido de carbono e metano. O resultado será a aceleração do aquecimento global.
A velocidade com que as geleiras no planeta derreterão, num primeiro momento será a responsável por um paradoxo positivo do aquecimento global. Por um curto período, a água doce será mais abundante no planeta do que atualmente. Uma ilusão.
Se as emissões CO2 continuarem nos níveis atuais, até o fim deste século a temperatura global se elevará ente 2 e 3 graus. No embalo de Donald Trump, as quatro regiões responsáveis por 60% das emissões do efeito estufa, China, Estados Unidos, União Europeia e Índia não prometem diminuir suas emissões. É possível que aumentem.
Entrevistado pela revista Veja, David Wallace-Wells autor do livro “A Terra Inabitável: Uma História do Futuro”, diz que “tudo que amamos vai mudar”. Que quando o assunto é o meio ambiente “vivemos em negação”. Ainda diz que Trump e Bolsonaro sinalizam a criação de uma nova política que prega a inação ambiental.