Não vou superar

Não vou superar.

Não adianta, as comparações são intrínsecas ao ser humano, e eu sofro por infelizmente ser humana e não superar.

Agora mesmo, relembrando coisas acontecidas sobre minha família, meu pai vem a minha mente em coisas que vivi e que soube pela história que ele deixou, e que me fazem lembrar o quanto a figura de meu pai foi e é importante para mim.

Sinto saudades, do pai, do grande homem que foi, do cara que torcia por mim, de quem nem tenho palavras para escrever a falta.

Talvez ele tenha deixado em mim tantas coisas que hoje me façam não ter um companheiro, pois as comparações inevitáveis nos seres humanos me façam querer alguém ao menos parecido no caráter, mas no fim sei que é impossível, pois sequer os dedos das mãos são parecidos, e sigo assim, sozinha meu caminho de busca sem resultados.

Talvez quem um dia leia este relato nunca consiga alcançar o sentimento de uma filha que não chorou o dia da morte de seu pai, mas sente a cada dia a sua falta, e quando compara todos os homens que lhe fazem “a corte”, os acham tão inferiores que sequer lhes dá a oportunidade de fazer parte de sua vida.

Acho que preciso de ajuda, sei que preciso de ajuda, mas não posso ter ajuda neste momento, por isso escrevo. É apenas um desabafo de mim para mim, só para daqui a algum tempo, após o que hoje acho insuperável eu dizer para mim mesma que ultrapassei mais esta etapa.

Muitas vezes, na falta de um ouvinte atento – talvez um psicólogo, escrevo, com esperança de que algum dia alguém venha a ler estes escritos e diga haaaaa, era isso?

No fundo sei que isso é um tipo de psicologia que faço de mim para mim, pois na hora que externo em palavras o que sinto, é como se eu estivesse me abrindo para alguém, que no caso sou eu mesma, mas tá valendo, pois sou excelente ouvinte de mim mesma.

Nos meus caminhos tortuosos perdi muita gente boa, muitos amigos e amores, que hoje sei exigi muito, coisas que jamais eles poderiam me dar, mesmo porque sequer imaginavam que existisse. Sei também que algumas dessas pessoas poderiam estar aqui comigo se eu tivesse um pouquinho de paciência para ensinar o básico que exijo, mas que esse básico para mim é muito para maioria das pessoas que encontrei na vida, e que o meu basiquinho contém uma educação, um sentimento de família, enfim, muitas coisas que eu julgava ser “normal” para todos, e que o tempo me fez ver que era para poucos, e que com o tempo fiquei ainda mais “anormal” dentro dessa “sociedade” que frequento ou que me engloba.

Então vivo hoje, em uma solidão que já foi amainada pelo alcoolismo, que já foi chorada pela depressão – e não tristeza, que não escolhi, mas que estou aceitando pelo tempo.

Não, hoje não vou superar, mas a cada dia que me entendo escrevendo esses textos meio loucos vai sendo importante para mim.

1. Hoje não fiquei louca bêbada na frente da minha família;

2. Sim, estou bêbada agora, mas já estou na minha cama escrevendo sem qualquer problema;

3. Ok, vou continuar chorando sempre, afinal todo bêbado de responsa chora;

4. Sempre, sempre mesmo, em toda minha vida vou sentir falta de meu pai.

Cinthya Fraga
Enviado por Cinthya Fraga em 02/09/2019
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