Mendigando

Ele estava ali como sempre. Como sempre lá estava ele. No mesmo local sentado ao chão com sua vasilinha pedindo algum trocado para as pessoas que passavam na rua. Roupas rasgadas, pés descalços, sujo, enrolado em um cobertor colorido que devia ter recebido de doação ou até mesmo encontrado no lixo. Vida de mendigo não é fácil, torna-se invisível para muitos que passam quase pisando e nem se quer dão um pouco de atenção aos mais necessitados.

Para o comércio local já era bastante conhecido, pois mesmo antes das lojas serem abertas, aquele homem que não sabíamos o seu nome, nem se tinha família, muito menos de onde vinha, estava a postos para vivenciar mais um longo dia de pedinte em meio ao caos, ao semáforo, aos carros, às adversidades climáticas, à correria dos grandes centros urbanos...

Vivia sem se notado, talvez porque as pessoas tivessem medo. Do jeito que andam as coisas hoje em dia, não se pode mais confiar em ninguém. Mas aquele homem era diferente, eu o olhava e os seus olhos fitados aos meus

expressavam algo que eu não conseguia ver nos outros mendigos. Sua expressão demonstrava interesse pela vida, vontade de viver, embora viver numa cidade grande sem perspectiva alguma é algo que dói, corrói, entristece e “mata aos poucos”.

Aquele solitário sofredor permanecia ao relento como se ainda tivesse esperança de que algo bom poderia lhe acontecer, de que alguém se compadecesse dele. A sua simplicidade demonstrava aflição e medo. Sempre que passava por aquele local, parava para contemplar aquele momento: Um homem à procura da sua identidade, mendigando dia a dia, sua vontade de viver era clara, mas algo o impossibilitava de reagir, prosseguir, ir à luta, reencontrar o seu passado.

E todos os dias lá estava aquele homem com um brilho na alma e a esperança de que um novo dia o oportunizaria a viver novas experiências, a vencer o medo, a acreditar em dias melhores e quem sabe sair daquela situação e estar pronto para um novo amanhecer, pois o tempo não para e como diz um singelo ditado popular “ Nunca é tarde para recomeçar.”

Lucimário F. Xavier

Lucimário Xavier
Enviado por Lucimário Xavier em 01/09/2019
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