MAIS DO QUE UM SIMPLES ADEUS
Poderia escrever um romance agora mesmo se me esforçasse um pouco em pensar sobre a gente. Mas vou me conter em relatar, mesmo em resumo, um momento, para mim, muito significativo.
Recordo-me, com certa riqueza de detalhes, de quando nos aproximávamos.
Éramos inexperientes, prematuros, desajeitados e deveras “patéticos como são as cartas de amor e os casais de namorados”, parafraseando Fernando Pessoa.
Mesmo com o receio e timidez que cobria teu rosto, alguma coisa insistia em te empurrar na minha direção, uma espécie de atração ainda não catalogada pela física do magnetismo. Não sei o porquê disso.
Rompemos algumas vezes. Levo comigo vagas lembranças destas noite tempestuosas. Exceto uma vez.
Havíamos terminado por alguma futilidade qualquer. Insisti contigo. Depois de muita conversa você continuou irredutível. Eu dei de ombros. Virei as costas. Quando ouvi meu nome ressoar na tua voz, em vibração tanto quanto tênue.
Não foi um tom incolor, como o de quem relata uma notícia. Sua voz demonstrava e despertava emoção. Não olhei para trás - porque odiaria que me visse chorando. Segui na direção de casa.
Ia a passos firmes, mas pensativo. Mais aéreo do que o comum. Depois de um tempo, enxuguei o rosto, com os olhos alagados sorri para mim mesmo, ainda que timidamente. Foi ali. Ali havia percebido que um simples adeus não nos separaria. Como, realmente, não separou.
Foi necessário algo a mais.
05.09.2016.