ESCRITOR – ABRINDO OS PORTAIS DE UM MUNDO NOVO!

A invenção da escrita foi um dos primeiros e dos mais importantes marcos da história da humanidade. Através dela pôde-se se perpetuar a Tradição até os dias atuais. Na Pré-história, a comunicação por desenhos nas paredes de cavernas (arte rupestre), ainda, não possuía um padrão e, portanto, não poderia se considerar uma forma de escrita. Muito embora, os escritos primitivos surgiram dos esboços de desenhos, o que leva muitos a dizerem que a literatura é filha da arte.

Os vestígios mais antigos de escrita são as “Tábuas Tártaras”, descobertas na Tartária, na Romênia, com datação estimada de 5.500 a.C. O significado de seus símbolos é desconhecido, e sua natureza tem sido objeto de debates calorosos. Os primeiros livros do mundo foram gravados em colossais monumentos de pedra. Alguns desses "livros", como a sumeriana “Epopeia”, de Gilgamesh, e a “História Egípcia dos Faraós”, pesavam muitas toneladas, cada um.

A forma mais primitiva de escrita seria a cuneiforme, palavra que significa “em forma de cunha”, devido aos povos primitivos, assim como os sumérios, utilizarem-se de instrumentos, em forma de cunha, para imprimir, na argila, ainda mole, desenhos toscos que, posteriormente, eram colocadas ao Sol para secar. Tais desenhos representavam sílabas, palavras e, o seu conjunto, histórias que ficaram registradas, por volta de 3.000 a.C., na Mesopotâmia, pelos sumérios.

Os antigos egípcios desenvolveram duas formas de escrita, a “hieroglífica” e, a partir da segunda metade do primeiro milênio antes de Cristo, a “demótica”, ambas podem ser encontradas nas paredes internas das pirâmides. A paleografia é a ciência que estuda as escrita da Antiguidade.

A partir do caule da planta “cyperus papyrus”, muito comum às margens do rio Nilo, surgiu o primeiro papel a ser utilizado para a escrita. Mais tarde, na Roma Antiga, surgiria o pergaminho, obtido através da pele de caprino, uma técnica que foi aperfeiçoada no antigo reino de Pérgamo, atual Turquia, nome que originou sua denominação. Em sequência, surgiu o códice, em substituição ao pergaminho. Era uma pequena placa de madeira encerada, utilizada pelos antigos romanos para escrever. O conjunto dessas placas, com dobradiças, formavam uma espécie de livro.

O “Escriba” era o profissional que, na Antiguidade, dominava a escrita. A mando do rei, redigia as leis do reino ou de determinada religião, registrava dados numéricos, copiava e arquivava informações. A escrita era de domínio de poucos, com isso, tais profissionais gozavam de enorme prestígio e destaque na sociedade. Considerados como parte da corte real, os escribas eram dispensados de pagar impostos e de servir as forças armadas, de então. Seus filhos eram educados na mesma tradição escriba e herdavam os cargos de seus pais.

A história deve seus registros a esses profissionais que, através da escrita, perpetuaram os acontecimentos para que, hoje, deles, pudéssemos tomar conhecimento.

Os Escribas, nos livros sagrados, referem-se aos doutores e mestres, homens especializados no estudo das leis divinas. Existiram escribas de diferentes seitas, como os saduceus, fariseus e essênios. Após o exílio babilônico suas funções passaram a ser mais específicas e relacionadas à religião, como copistas, preservadores e intérpretes da lei religiosa. Esdras é um exemplo de sacerdote e escriba.

No ano 70 d.C., com a destruição do Templo de Herodes (Jerusalém), com o consequente desaparecimento dos sacerdócio judaico, sua influência passaria a ser, ainda, maior. Pouco antes de Cristo, nomes de escribas como Hillel e Sammai ganharam destaque. O escriba Gamaliel, filho de Hillel, foi mestre de Paulo de Tarso.

A escrita chinesa e a escrita adotada pelas civilizações pré-colombianas, na América, como, por exemplo, a escrita maia, tiveram origens independentes. Vários sistemas de escrita mesoamericanos são conhecidos, sendo a mais antiga, a olmeca ou zapoteca, do México. A escrita japonesa foi criada a partir da escrita chinesa, por volta do século IV.

Os japoneses produziram o primeiro e mais longo romance do mundo. Uma história em 54 volumes, e o autor era uma mulher! O nome desse romance é bastante interessante, Genji Monogatari (Mexerico a respeito do sr. Genji). A autora desse livro é Murasaki (Senhora Violeta).

Em verdade, os antigos escritores sumerianos não mostravam interesse pela escrita, em si. Seu foco era os negócios. A invenção da escrita, por eles, tinha por fim consignar os extratos de contas e as faturas de venda.

Foram os gregos os primeiros europeus a aprender escrever com um alfabeto e seu sistema foi fundamental para o mundo moderno. Já o alfabeto romano, na Roma Antiga, dispunha, apenas, de letras maiúsculas. Na época em que a escrita passou a ser em pergaminhos, foi criado um novo estilo, denominado de “uncial”, que resistiu até o século VIII, inclusive utilizado na escrituras da Bíblia. Foi quando surgiu um novo estilo, desenvolvido pelo monge inglês, de nome Alcuíno, atendendo ao pedido do imperador Carlos Magno. Por volta do século XV, foi criado, por alguns eruditos italianos, um novo estilo menos complexo.

No Mundo Medieval, o acesso aos escritos era restrito aos clérigos, com isso, surgiria a figura do Monge Copista, herdeiros dos escribas egípcios. Os mosteiros e abadias eram os poucos centros de cultura letrada.

O estilo, hoje, denominado itálico, teve origem com a criação do primeiro caderno de caligrafia, pelo italiano Lodovico Arrighi, em 1522. Com o tempo, outros cadernos foram impressos, tendo seus tipos gravados em chapas de cobre, dando origem a escrita calcográfica (escrita ao contrário).

Do mesmo modo que o telescópio revolucionou a astronomia, a invenção da imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg, em 1430, revolucionou a escrita, com a produção mecanizada, em massa, de livros, através de tipos produzidos em chumbo, substituindo o códice, o livro escrito manualmente. Em 30 de setembro de 1452 foi produzido o primeiro livro impresso, a Bíblia, que ficou conhecido como a “Bíblia de Gutenberg”.

Gutenberg imprimiu a sua transcrição da Bíblia, em latim, em dois volumes, distribuídos em 1282 páginas, com 42 linhas cada, resultando em, aproximadamente, três milhões de caracteres. Foram impressas 180 unidades até o ano de 1455, mas, apenas, 48 exemplares estão conservados até hoje. Considerada a obra-prima da impressão e do artesanato refinado, seu texto original é a tradução, em latim, conhecida como Vulgata, feita por São Jerônimo, no século IV.

Enfim, o alfabeto utilizado atualmente, é o legado de várias culturas, a partir da necessidade do registro dos sons das palavras, passando por diversas transições, porém, é atribuída aos fenícios a representação fonética das palavras, sendo, os alfabetos, o abstrato que podem ser adaptados e usados a qualquer tipo de idioma.

O surgimento da escrita é um marco importante na história do mundo, por demarcar a separação entre a história e a pré-história, iniciando o registro dos acontecimentos. Os antigos inventores da escrita foram os pioneiros da educação moderna. Contudo, não tinham ideia da parte proeminente que haveriam de desempenhar na história da cultura humana.

O escritor é o profissional que utilizando-se da palavra escrita, expressa suas ideias. O termo “pa-lavra” é a “pá” que “lavra” o terreno fértil (a mente do leitor), com o objetivo de semear ideias, conceitos e ensinamentos, contribuindo, com isso, para o nascimento de um novo estado de consciência, naqueles que se permitem enveredar pelo mundo mágico da leitura.

Através da escrita e a da leitura o homem transcende ao tempo e ao espaço, permitindo ao escritor da Antiguidade comunicar suas ideias ao leitor da atualidade. Concede ao leitor um passaporte para uma viagem ao mundo das ideias do escritor, vivenciando emoções e angariando conhecimentos que, colocados em prática e transmitidos a outrem, poderão se consolidar em sabedoria!

Francis Bacon dizia que “a leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil; e o escrever dá-lhe precisão”. Decartes dizia que “a leitura de todos os bons livros é como uma conversa com os melhores espíritos dos séculos passados, que foram seus autores, e é uma conversa estudada, na qual eles nos revelam seus melhores pensamentos”.

Essa breve viagem pela história da escrita, serviu-nos de preâmbulo para homenagear esses profissionais que, através do bailado harmonioso de seu grafite, registram e perpetuam suas ideias, como o incansável barqueiro, que faz a travessia entre o abstrato, que sua mente plasmou, transportando para o concreto, e eternizando, no papel, em forma de escrita.

Quando “suas ideias” transcendem a sua capacidade mental, humildemente, agradece a seus mentores espirituais pela oportunidade de ter-Lhes servido de um canal, para a expressão de uma Vontade Superior.

Mundialmente, comemorado no dia 13 de outubro, no Brasil, o Dia do Escritor é comemorado no dia 25 de julho, por ocasião da realização do I Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira dos Escritores. Devido ao enorme sucesso do evento, foi sugerida tal data para homenagear tão nobre profissional da escrita, o que foi, devidamente, acatada e aprovada, a partir de 1960, pelo Ministério da Educação e Cultura.

“O Ministério da Educação e Cultura, reconhecendo este significado, promove, na data de hoje, a criação do Dia do Escritor Brasileiro, que será doravante comemorado, por iniciativa oficial. E aproveita, como patrono do fato, a figura de João Ribeiro – símbolo do humanismo brasileiro – cujo centenário de nascimento se celebra em todo o território nacional, e que representa, de modo expressivo, por suas virtudes poligráficas de escritor, a própria Inteligência Brasileira”.

Aos nobres colegas, desde os icônicos Machado, Drumond e tantos outros, aos infinitamente menos conhecidos, como eu, que se equilibram em suas penas, a franquear os portais de um mundo novo para nossos diletos leitores, recebam nossa sincera, carinhosa e humilde homenagem!