E SE...

São Luís. 18:00 horas. Outubro de um ano qualquer. Praia. A visão do horizonte ao mar aberto. Vento e salito. Esse crepúsculo alaranjado e uma única pergunta. Sobre ti. Sobre você, como tem sido ultimamente.

E se soubesse que eu morria amanhã? O que me diria? Tchau? Até mais? Faria uma confissão de amor platônico?... [ou uma declaração de paixão ardente?] Talvez um ato infantil de revolta com o destino: atrasando o relógio, ou adulterando o calendário. Não... Com certeza não.

Aliás, não mesmo. Não é essa a pergunta. O correto é invertê-la. O ônus é meu. Sempre foi. Essa retórica recrudescida não pode me escusar. Não quero, e esse último instante não me permite, esconder-me para sempre.

O que eu lhe diria caso eu morresse amanhã? Esse é o ponto de partida. Acho que lhe diria a verdade. Minha verdade. E talvez, por um momento conseguisse.

Por um momento, poderia ser contigo como sempre sonhei, sem imaginar que pudesse ser real.

Por um momento sentiria o floco de neve na linha do equador me afugentar.

Por um momento poderia tu poderias, se ouvisse com a alma o que tenho a dizer, fazer de ti meu abrigo para o suspiro final.

Não.

Na verdade: Nada. Não diria nada. Não sou capaz de tamanha covardia. Silêncio. Qualquer outra coisa seria pusilânime. Ninguém tem esse Direito. Um depoimento assim não pode ser vivido em 24 horas. Não pode ser por um momento. É um fardo meu. E que assim deve permanecer comigo. Só. Como uma vizinha fofoqueira, sem

vizinhos no portão.

Soubesse que morreria amanhã... Viveria normalmente. Ao fim do dia, contemplaria o pôr do sol. Na praia. Em São Luís. A partir das 18:00h. Exatamente como estou agora.

Fecharia os olhos, sorrindo, imaginando o que me diria se soubesse que amanhã não estaria mais aqui para ouvir qualquer coisa. Os manteria fechados. Manteria-me sorrindo. Até que não pudesse mais abrir os olhos ou sorrir.

Mesmo assim, quando for, teria comigo, até - e depois - do último instante, os teus próprios olhos amenos e esse sorriso desconsertado. Eles, diferente dos meus, como nos sonhos, seriam eternos. Seria a poesia de um fim perfeito. Divagando aleatório em mim mesmo. E nesse processo, talvez me encontraria. Porque nem todos os que divagam estão perdidos.

12.03.2018

Alexander Barbosa
Enviado por Alexander Barbosa em 30/08/2019
Código do texto: T6733202
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