O Sertão e a viola
Eu sinto enorme saudade do sertão porque foi ali onde iniciei cantar repente e viajar com muitos cantadores, e cantar em quase toda casa do campesino pobre. Não ganhei dinheiro com viola tampouco fiz fama no entanto conquistei muita gente boa no sertão querido cenário das minhas grandes cantorias. Cantei da choupana do pobre ao casarão do rico entretanto só me sentia bem quando eu estava no casebre humilde cantando para gente pobre como eu. Andei em toda região jaguaribana, conheci de perto o vale todo e fiz amizade com gente de toda classe. O sertão deixou uma marca muito forte dentro de mim até porque foi no sertão que eu fui criado, onde dei início a minha vida artística ainda na casa do meu avô em Malhadinha. As grandes noites de cantoria eu fiz nos casebres sertanejos e ficou em mim uma lembrança forte tanto do povo como dos lares humildes. Mesmo sem ganhar dinheiro eu me sentia feliz em cantar no sertão, em viajar pelo agreste e conhecer de perto a vida do camponês, o homem mais sofrido do nordeste brasileiro. O sertanejo é um homem forte, porque topa tudo sem cobertura de ninguém, sem apoio do poder público e muitas vezes sem o auxílio da própria natureza. Meus pais nasceram no sertão combusto e eu morei mais de trinta anos no sertão seco cantando e viajando por toda zona rural. Eu adoro o sertão nordestino, adoro ouvir o pássaro cantar na galha da jurema seca e muito mais bonito é ouvir o jumento rinchar no agreste ou no carrasco terrível como também ouvir o aboio do vaqueiro tangendo o gado para o cercado montado no seu cavalo ligeiro e bom de sela. Minha maior alegria como repentista era cantar no lar humilde do caboclo nordestino e tomar do seu café pobre, ainda assim muito bom. Lembro-me do sertão querido quando escuto o baião plangente da viola.