Grande Salto
Era um dia simples como outro qualquer, desses cotidianos em que buscamos nos livrar o mais rápido possível, pois no dia seguinte, aconteceria a realização de um sonho, finalmente saltaria de paraquedas.
Saltar de tão alto nunca foi daqueles sonhos que temos desde criança, afinal sofria de acrofobia, porém devido a tantos traumas sofridos nos últimos anos, e, ultimamente, ter perdido todos os sonhos que tinha, acabei me esforçando a pensar em fazer em algo completamente novo, algo que não havia passado nesse psicológico destruído e arruinado pelos acontecimentos “naturais” da vida.
Embora o medo dominasse na minha mente depressiva, eu ansiava por viver aquele momento, sabia que tinha riscos, mas pra quem já não tem mais nada a perder, era como se não houvesse risco nenhum, pois se o pior acontecesse, e por algum erro técnico uma fatalidade ocorresse, uma parte de mim queria aquilo também, e essa adrenalina me deixava em êxtase, porque queria muito viver e morrer ao mesmo tempo naquele dia.
E o dia chegou, estava na companhia dos meus amigos, que estavam bem mais amedrontados que eu e passaram o trajeto para o aeroclube inteiro querendo me fazer mudar de ideia, talvez porque eles sabiam do meu desejo de que tudo desse errado, mas tranquilizava-os dizendo que havia baixa probabilidade de erros técnicos, e mesmo assim eles ficavam do meu lado todo tempo em que o instrutor dava as instruções de um salto seguro e mostrava a segurança dos equipamentos.
Chegou a hora de entrar no avião e naquele momento eu dei conta de que tudo aquilo era mesmo um sonho realizado, era uma sensação um tanto forte e engraçada, estava vivendo um sonho que nunca sonhei, sentia que estava vendo tudo pela primeira vez, o céu, as nuvens, o sol, meus parceiros de salto e meus amigos bem minúsculos lá embaixo.
Quando finalmente saltei, naquela queda livre de 1 minuto que parecia uma eternidade, foi o momento que me senti mais vivo em toda minha vida, a adrenalina quando se sente entre a vida e a morte é que faz você escolher mais facilmente a primeira opção, e quando o paraquedas é puxado e se tem a visão da cidade sob um panorama bem alto e tranquilo, sente a necessidade de pertencimento, naquele momento eu queria muito continuar vivo e fazer parte de algo maior.
Cheguei ao chão extasiado com tudo que senti em tão pouco tempo, e vi que meus amigos estavam bem alegres e aliviados por tudo ter corrido bem. Desse momento em diante, vi que essa adrenalina e cinestesia são sensações que eu poderia usar a meu favor para quando me sentisse deprimido novamente, no fim, saí satisfeito por não ter desistido da vida e poder estar vivo para compartilhar esta história.