Independência, num grito acuado


          A proximidade do Dia da Independência, mesmo que se tratasse da hora da independência, leva-me a refletir sobre as intenções e os propósitos de alguns países que querem, a todo custo, subjugar economicamente o nosso país, tomando as nossas riquezas, as nossas terras e o que está debaixo dela, como o petróleo, já que as outras  minas já se foram ou já foram entregues. A ressonância do grito, nas margens do Ipiranga, ainda ecoa, num tom ameaçador: “Independência ou morte”, como ensinam os manuais escolares. A morte é inevitável, para quem vive, esse momento se parece com a espada de Dâmocles, pendurada por um frágil cordão, com a ponta voltada para e sobre as nossas cabeças. Todos os que, às margens do Ipiranga, jogaram fora “os laços de Portugal”, inclusive o Príncipe herdeiro, obviamente já morreram e morreram, em algum sentido, relativamente dependentes...
          Os tempos mudaram, como mudam as águas do rios, dos riachos, até as margens esquerda, direita e o leito do Ipiranga. E também o conceito de independência e a quem ele se aplica. Ontem era se libertar de Portugal, hoje, de quem é o jugo? O grito é um aviso de luta, não de dor; de independência, porque sem lutar pouca independência ou quase nenhuma se conquista. A bem da verdade, os mais poderosos que oprimem, mesmo se não se sentem, eles são dependentes. Nesse contexto, a nossa existência é objeto da afirmação de Jean Paul Sartre: “O inferno são os outros”; dos outros dos quais somos dependentes...
          Naquele dia, mais precisamente em 7 de setembro de 1822, “às margens do riacho Ipiranga”, consideravam-nos dependentes de Portugal. Ocorreu o grito, fácil, sem valentia e sem resistência, que ecoou em todo o Brasil, do Chuí ao Oiapoque, da Ponta do Seixas à Nascente do Rio Moa. Os laços, símbolos portugueses, foram retirados do peito, como pintou Pedro Américo: sem luta, com muita facilidade; sem protestos, sem quase alguma reação armada do reino; e o povo lusitano não reclamou. Enfim, só faltava o grito que estava empacado, tartamudo. Aqui e agora, enquanto o fogo queima ardentemente as nossas florestas, derrubando, na Amazônia, árvores centenárias, em vez de se apagarem esses incêndios, na maioria propositais, discutem-se estatísticas, e grita-se independência aos povos incomodados, como se eles estivessem apenas reclamando o calor.
           Interessantes e contraditórias são as gargantas que rosnam invadir países da América Latina, nossos vizinhos hermanos, são quase as mesmas  bocas que gritam autonomia brasileira sobre como solucionar esses problemas florestais, em nome da “autodeterminação dos povos”, de todas as nações em todos os países; contra toda e qualquer interferência, mesmo quando oferecem ajuda para apagar os incêndios, acesos, na sua maioria, para causar desmatamento. Constata-se que o mundo é uma aldeia, hoje, tão globalizada que a preocupação em se proteger o meio ambiente deve ser uma atitude consequentemente globalizada, para que aconteça o bem comum a todos. Tais consciência e mentalidade têm sido frutos das boas salas de aula, que ensinam às crianças o valor e a importância da água, da terra e da sua vegetação, estejam elas onde estiverem. Dessa conscientização, somos vantajosamente dependentes. Sem essa preocupação globalizada, brevemente a Terra não sobreviverá, teremos necessidade de outro planeta. De tudo isso, haja dependência, mesmo no Dia da Independência. Contudo, ser independente da opressão é a independência que é um direito, nunca dado, mas sempre conquistado e defendido.