Que bom seria se pudéssemos descartar dias ruins como se fossem folhas de caderno velho, onde a matéria estudada foi modificada pelo tempo e o acordo excluiu o posto, nos impulsionando à reciclagem: “Vai folha, a favor do vento, vai levando também o meu descontentamento até o dia partir...” E veja que não falo dos nossos dias ruins, apenas, processados em máquina lenta, mas carregados, falo de empatia, de colocar-se (não confortavelmente) no sofá alheio, pra saber em qual parte dele, a espuma está desgastada, onde dói sentar e como a coluna recepciona um novo modelo.
Confesso que dos temores mais evidentes que me rondam está o de me tornar amarga a ponto de usar qualquer forma de opressão para diminuir alguém por qualquer coisa que seja até por vaidade ou quem sabe ilusória ideia de poder. Humana tal, me policio, como se militar fosse, no ostensivo:“Cuida bem de si mesmo, para não querer controlar-se no outro.”
Se houvesse vergonha alheia (constrangimento por terceiros), pediria desculpas pela indelicadeza de alguns que escancaram a maldade e de um modo tão cruel que parece jogar ácido sulfúrico (a ponto de cegar): “Desculpe a maldade humana, insana. Desculpe por ter gente assim. Desculpe a maldade humana, insana, não queria que fosse assim...”
Ditado bem dado, lição filosófica do dia: só podemos dar aquilo que temos... Mas convenhamos, massacrar alguém por pura vaidade é tão infantil que parece brincadeira de criança pirracenta com a diferença que, nestas, a racionalidade ainda é conto do futuro, o cérebro não está preparado para separar o “joio do trigo”.
Quem sabe matar muriçocas com raquete de choque, cavar buracos pra achar minhocas, espremer limão só com as mãos pra fazer um suco, estourar plástico bolha, escrever contos de terror, chutar cupins no meio rural, não possa desafogar a vontade de ser juiz e de aplicar sentença condenatória em qualquer meio (inclusive embebedes sociais), sem conhecer o “processo”.
O mundo está repleto de quem trata mal e quer ser bem tratado, respeitado; cheio de gente que come couve e arrota lombo; cheio de gente que apalpa a teta pra ver se tem leite e depois fala mal da vaca que o amamentou; cheio de gente que fere com palavras mal ditas e que não tem retorno, afinal a memória não apaga a maldade com uma borracha humana, sem antes ver cravada, a ponta do lápis que a escreveu.
Não sou adepta de campanhas tipo merchandising que pedem “mais amor, por favor”, impressa em camisas, bonés e folders, qualquer bandeira é bonita, mas se não consegue olhar pro seu vizinho sequer, com compaixão, bandeira nenhuma te salva.
Hoje mesmo, ao descer o elevador, dei de cara com um cidadão nervoso, agressivo porque a moradora do andar de baixo é muito mansa, fica prendendo o elevador. Sem permitir que falasse ao menos uma palavra descarregou seu ódio dizendo que as políticas sociais fizeram dos idosos uns pedantes que se acham superiores, como se não pudesse ela, usar o carrinho de compras pra não ter que retirar sacola por sacola. Mal sabia ele que era dela vizinha de frente e conhecia a sua limitação física por ter Mal de Parkinson, o que a impedia de carregar peso, sendo assim, mesmo com dificuldades executa suas tarefas sozinha, se adaptou assim, carregando uma sacola por vez, para não abusar de ninguém. Olhei pra ele e sorri dizendo: bom dia! A D. Ester tem uma limitação, acredita? Parkinson! Ele me olhou com rispidez como quem me dissesse: Quem é você filha, pra me contradizer? E continuou: - Então devia ter uma cuidadora e não ficar causando inconvenientes. Quis retrucar, sinceramente, mas olhei para suas mãos já marcadas pelas pontas do tempo e pros fios de cabelo branco que saltavam aos olhos e, perdi a vontade, percebi que não valia a pena, aos poucos, de algum modo, ele compreenderia que envelhecer não é pra qualquer um e que o espaço que separa uma fase da outra é curto e certo, a não ser por um deslize da morte apressada.
Desci, perdi a vontade e subi de novo. Fui lá dar um abraço na D. Ester e dizer que estava triste e precisava de um colo de mãe (já que a minha mora noutra cidade), porque o mundo é cruel. Aliás, as pessoas são... Ou estão doentes da alma. D. Ester não entendeu nada, nem precisava...
Confesso que dos temores mais evidentes que me rondam está o de me tornar amarga a ponto de usar qualquer forma de opressão para diminuir alguém por qualquer coisa que seja até por vaidade ou quem sabe ilusória ideia de poder. Humana tal, me policio, como se militar fosse, no ostensivo:“Cuida bem de si mesmo, para não querer controlar-se no outro.”
Se houvesse vergonha alheia (constrangimento por terceiros), pediria desculpas pela indelicadeza de alguns que escancaram a maldade e de um modo tão cruel que parece jogar ácido sulfúrico (a ponto de cegar): “Desculpe a maldade humana, insana. Desculpe por ter gente assim. Desculpe a maldade humana, insana, não queria que fosse assim...”
Ditado bem dado, lição filosófica do dia: só podemos dar aquilo que temos... Mas convenhamos, massacrar alguém por pura vaidade é tão infantil que parece brincadeira de criança pirracenta com a diferença que, nestas, a racionalidade ainda é conto do futuro, o cérebro não está preparado para separar o “joio do trigo”.
Quem sabe matar muriçocas com raquete de choque, cavar buracos pra achar minhocas, espremer limão só com as mãos pra fazer um suco, estourar plástico bolha, escrever contos de terror, chutar cupins no meio rural, não possa desafogar a vontade de ser juiz e de aplicar sentença condenatória em qualquer meio (inclusive embebedes sociais), sem conhecer o “processo”.
O mundo está repleto de quem trata mal e quer ser bem tratado, respeitado; cheio de gente que come couve e arrota lombo; cheio de gente que apalpa a teta pra ver se tem leite e depois fala mal da vaca que o amamentou; cheio de gente que fere com palavras mal ditas e que não tem retorno, afinal a memória não apaga a maldade com uma borracha humana, sem antes ver cravada, a ponta do lápis que a escreveu.
Não sou adepta de campanhas tipo merchandising que pedem “mais amor, por favor”, impressa em camisas, bonés e folders, qualquer bandeira é bonita, mas se não consegue olhar pro seu vizinho sequer, com compaixão, bandeira nenhuma te salva.
Hoje mesmo, ao descer o elevador, dei de cara com um cidadão nervoso, agressivo porque a moradora do andar de baixo é muito mansa, fica prendendo o elevador. Sem permitir que falasse ao menos uma palavra descarregou seu ódio dizendo que as políticas sociais fizeram dos idosos uns pedantes que se acham superiores, como se não pudesse ela, usar o carrinho de compras pra não ter que retirar sacola por sacola. Mal sabia ele que era dela vizinha de frente e conhecia a sua limitação física por ter Mal de Parkinson, o que a impedia de carregar peso, sendo assim, mesmo com dificuldades executa suas tarefas sozinha, se adaptou assim, carregando uma sacola por vez, para não abusar de ninguém. Olhei pra ele e sorri dizendo: bom dia! A D. Ester tem uma limitação, acredita? Parkinson! Ele me olhou com rispidez como quem me dissesse: Quem é você filha, pra me contradizer? E continuou: - Então devia ter uma cuidadora e não ficar causando inconvenientes. Quis retrucar, sinceramente, mas olhei para suas mãos já marcadas pelas pontas do tempo e pros fios de cabelo branco que saltavam aos olhos e, perdi a vontade, percebi que não valia a pena, aos poucos, de algum modo, ele compreenderia que envelhecer não é pra qualquer um e que o espaço que separa uma fase da outra é curto e certo, a não ser por um deslize da morte apressada.
Desci, perdi a vontade e subi de novo. Fui lá dar um abraço na D. Ester e dizer que estava triste e precisava de um colo de mãe (já que a minha mora noutra cidade), porque o mundo é cruel. Aliás, as pessoas são... Ou estão doentes da alma. D. Ester não entendeu nada, nem precisava...