Dia do Fogo
Viajava eu num ônibus urbano, coisa recente, era metade da manhã, ali pelas nove horas. É horário em que os coletivos trafegam mais amenos – quer dizer, mais vazios.
No banco logo atrás sentaram-se dois cidadãos. Começaram a conversar sobre o fogo na Amazônia – as queimadas, que chamam a atenção do mundo.
Alguns países da Europa estão preocupados. A Amazônia é parte que restou da natureza. Agora todo cuidado é pouco.
Os dois passageiros comentavam. Um deles disse: ----- Vi na internet que as queimadas foram orquestradas pelo próprio governo, em parceria com alguns ruralistas.
O outro: ----- É mesmo? Olha, isso é crime ambiental. E o criminoso é o governo, sob o “comando” dele, o Bozo. Bem, ele continuou, então esse governo deve estar armando alguma jogada. Não iria ele queimar a floresta amazônica, matando animais indefesos, transformando árvores em carvão, à toa. Lógico que não.
O primeiro opinou: ------ Verdade. Ele é meio maluco. Aliás, um maluco total. Percebo que “a ficha (do povo) ainda não caiu”. Faz algum tempo ele declarou que abriria a região para os gringos, os ianques, americanos. Estes teriam a gestão da Amazônia numa espécie de franquia.
O segundo: ------ Bozo quer tirar a Europa de rota e fazer um consórcio com os americanos. E para isso utiliza um tipo de guerrilha, ou sei lá, algo de terrorismo. Olha, essa tática dele com os ruralistas deva ser para enfraquecer as ONGs, que o Exército vê como células comunistas, todos marxistas disfarçados de ambientalistas.
O primeiro: ------ Faz sentido. Os milicos nunca viram com bons olhos a sociedade civil organizada gerenciar o patrimônio público. Acham eles (os milicos, meganhas) que paisano é bandido, corrupto, leviano, só quer moleza. Só ganhar ($) fácil. Apesar que eles também não fazem muita coisa.
Prosseguiu: ------ General não aceita se submeter aos paisanos, aos civis. Nada disso. Quer estar acima das leis, da Constituição Nacional.
Comentou o segundo, brincando: ----- Veja, amigo, nós, o povo, bem que poderíamos criar também o “dia do fogo”. E tocar fogo no Planalto, no Congresso, nos tribunais de justiça, ministérios públicos...
O companheiro dele começou a rir. E disse: ----- Sugestão interessante a tua.
Uma sugestão, claro, em sentido figurado. Incendiar o Planalto seria a sociedade pressionar – e dar o impeachment do “cachorro doido”.
Ente sem nenhum preparo para governar. Entramos "numa fria".