Vamos combinar de nos desconhecer? Eu pago.
- Michele? MICHELE?
- Ahn? Nossa! OI, NATHAN!
- OI!
- COMO VAI?
- VOU BEM E VOCÊ?
- O QUE VOCÊ TEM?!
- EU DISSE QUE VOU BEM, MI!
- AH TÁ. AQUI ESTÁ ALTO O SOM, ACHO.
- É, UM POUCO! VAMOS PRA ÁREA DE FUMANTE?
- OBRIGADA, NATHAN, MAS NÃO FUMO.
- É PARA CONVERSAR SEM GRITAR.
-AH TÁ! VAMOS SIM! VOU SÓ AVISAR MINHAS AMIGAS!
- Nossa, melhorou, não acha, Mi?
- Concordo! Mas então...Como vai?
(abraço sem encostar o corpo)
- Vou bem, e você?
- Bem também! Você sozinho por aqui?
- Então, vim passar o fim de semana na casa do Matheus e curtir um bar juntos, mas me perdi... lembra dele?
- Matheus...
- Meu colega de quarto!
- Ah, sim! O que é mochileiro às vezes?
- O próprio!
- Mas ele mora aqui ainda?
- É...vai casar, na realidade. Serei padrinho.
- NOSSA, ELE VAI CASAR.
- Sim.
- Muito espantada...só um minuto, é com aquela moça que conheci?
- A própria!
- Nossa, Nathan, jurava que aquilo não passaria de umas noites!
- Também achei...aceita cerveja?
- Aceito..., até aí está bom, Nathan, não bebo tudo isso! Pronto... Mas e você, mudou, não foi? Tá pra onde?
- Capital...e você? Vi que tirou quase um ano sabático.
- Ahhh....gostaria! Na verdade, só peguei uns dias que tinha a mais no trabalho, mais as férias vencidas, deu aí pra viver dentro do carro e passar por todas as Chapadas.
- Sozinha?
- Comigo, Nathan.
- Verdade...com você! Ainda tem aquelas ideias sobre liberdade?
- Algumas sim, outras não.
- Vamos nos sentar aqui, Mi?
- Na sarjetinha?
- Pelos velhos tempos.
(sentados na sarjeta molhada)
- ...e aí eu vi que não era para mim aquele trabalho, Nathan. Depois de nove anos, cá estou eu, desempregada e voltando a estudar.
- Tá estudando o quê?
- Criminologia. Adoro uns assassinatos.
- É, Michele, você mudou nada.
- Como assim?
- Continua a mesma menina estranha de sempre, Jesus!
(risadas que terminam sem graças)
- Faz quanto tempo, Mi?
- Que nos vemos a última vez?
- Isso.... uns 5 anos?
- 4 anos e... (conta nos dedos) 3 meses.
- Uau! Boa memória a sua!
- Foi no seu aniversário, acho, Nathan.
- É, foi mesmo...
(silêncio)
- Acho que a cerveja esquentou, Mi.
- Sim...e na verdade, já deu meu tempo. Hora de ir embora.
- Em Boa Hora?
- O quê?
- Lembra, Mi...Quando se vai em-bo-ra...
-....é Em Boa Hora. Lembrou das minhas dicas de gramática?
- Serviram para eu passar no concurso!
- Fico feliz por ti, Nathan.
(se levantam e arrumam a roupa, molhada atrás)
- Bem, me vou! Bom te ver, Na. Bom ver que está bem.
- Digo o mesmo, Mi.
(abraço mais aconchegado, afinal a bebida subiu)
- Não somos mais os mesmos, não é?
- Já trocamos de células, Nathan.
- É quanto tempo a troca mesmo?
- Dentro de sete anos trocamos todas as nossas células do corpo...
- Verdade, lembro quando me explicou isso. E estávamos no meio do processo..
- Sim. E ele chegou ao fim. Bem, vou chamar meu táxi. Aqui tá meu dinheiro das cervejas.
- Não precisa, Mi, Eu pago.
- Eu faço questão, Nathan.
- Ok. Não discutirei. Acha que nos encontramos novamente?
- Espero que não, Nathan.
- Entendo.
- Foi um prazer, Na. Boa jornada nesta existência.
- Pra você também, Michele.
Michele virou a esquina.
Nathan voltou pro bar.