MEIA-NOITE... EM BELÉM !

MEIA-NOITE... EM BELÉM !

"À meia-noite todos

os gatos são pardos"!

(ditado milenar)

É meia-noite... e nem 1 minuto a mais ! Desde tempos imemoriais que a fatídica hora causa temor e receios na maioria dos mortais. Se estiver numa igreja vazia, às escuras ou, pior, num cemitério -- nesse caso, ainda vivo -- os medos e tremores aumentam e qualquer sombra nos gela o sangue. Quando menino quase "me borrava" por ter que ir bater os sinos na "Hora do Ângelus", momento solene da "Ave Maria", que o Mundo moderno esqueceu. Era algo como o "Hino Nacional"... parava-se tudo o que se estava fazendo, homens descobriam a cabeça e de mãos postas se rezava. Mas, para mim, percorrer quase às cegas o breu da nave cristã até chegar aos sinos, lá no alto, era um suplício, morcegos se assemelhavam a demônios e eu termia topar com almas penadas.

Meia-noite a mil e tantos anos no Passado era a hora de lobisomens, zumbis, cães-lobos, de fantasmas, capetas e sabe-se lá mais o quê. Sem relógios à vista "meia-noite" era qualquer tempo entre as onze e 2 horas da madrugada.

As bruxas, ciganas e feiticeiras ficaram no século 18, talvez 19, "queimadas vivas" por vezes ou desmoralizadas pela descrença da "Era da Industrialização" em que até um "Halloween", antes preocupante, vira objeto de comércio, "diversão" de gosto duvidoso. Mas a inspiração para estas memórias -- nem chamo de crônica -- surgiu de breve frase do poeta Edmir Bezerra, ilustrada por linda foto da Feira do Ver-o-Peso. Voltei aos anos 90 (1988 a 91), tempos dos saraus poéticos que JURACI SIQUEIRA sustentava no sereno noturno de Belém, "noites de lua cheia, vinho e poesia" (êle só não garantia a lua !), com "varais" onde eram pendurados poemas em cartolina, ilustrados com fotos e desenhos. Tudo correndo sem cerimônia, sentados no chão, um ou outro trazendo mais vinho e algum salgadinho, sem hora para terminar.

Hoje em dia, 30 ANOS depois, seríamos todos assaltados... lembro que saímos de uma praça no Ver-o-Peso (seria a da Bandeira ?) noite avançada e, seguindo por vielas, findamos no bairro do Jurunas quase 11 da noite, "invadindo" um bar no meio da semana, 8, 10 ou 12 "nefelibatas noctívagos" -- têrmo de evento do Carlos Lima, na época com 1 M só ! -- que juntaram 3 mesas e passaram a declamar sem consumir um copo d'água sequer, para espanto do dono do botequim. Saí lá pelas 2 da madrugada, vagando pelas ruas geladas até as 5 e pouco, quando os primeiros ônibus voltavam a circular, O pessoal continuou no bar, com o proprietário se perguntando quem êle esganaria primeiro ! Bela Belém, hoje tão mudada... leis reduziram o horário de funcionamento dos bares -- para diminuir (?!) os crimes -- e os coletivos continuam sem circular depois da meia noite.

É MEIA-NOITE... e nem 1 minuto a mais !

"NATO" AZEVEDO (em 25/agosto 2019, 20 hs)