ESTÓRIAS CARIOCAS ACRONOLÓGICAS - PARTE XI

1---Elemento de integração social que foi da urbanização à expansão do RIO e revolucionou costumes, tornando-se meio de transporte nas cidades grandes... o BONDE... mais rápido que os pés, menos cansaço, barato e comum a todos. Transportava gente adulta, colegiais, bagagens, mercadorias, cargas, verduras, correspondência. Em CRÔNICA de saudade-ternura, gemia nos trilhos, parava nas esquinas de 'não-pressa'. Quem andava de BONDE? Como símbolos de classes, balconista, estudante, soldado, funcionário público e operário (pendurado por fora para não pagar, segurando balaústre e marmita). RUY BARBOSA o declarou "a salvação da cidade (...) instrumento do seu progresso material (...) dilatou a zona urbana (...) tornou possível a moradia fora da região central".

2---VEÍCULOS DE TRAÇÃO ANIMAL --- Precursores do BONDE - 1-diligências (carro de quatro rodas puxadas por quatro cavalos); 2-ônibus (também puxados por quatro animais que começaram a circular no Rio em 1837, por iniciativa do francês JEAN LECOQ - carros compridos, vermelhos ou amarelos, dois bancos longitudinais, levando até 24 pessoas: acabaram devido à concorrência dos bondes a burro); 3-gôndolas (recinto assemelhado ao barco veneziano, puxadas por parelha de bestas, até 9 passageiros, mesmo fim dos ônibus). --- A primeira concessão para serviço de transporte urbano por animais sobre trilhos de ferro foi outorgada em março de 1856 ao conselheiro CÂNDIDO BATISTA D'OLIVIER e começava no Largo da Mãe do Bispo, confluência entre as atuais ruas Treze de Maio e Evaristo da Veiga, e o Morro da Boa Vista, na Gávea; o BARÃO DE MAUÁ pagou a transferência da concessão por 45 contos de réis. Neste março, o governo autorizou o médico homeopata inglês THOMAS COCHRANE a organizar o serviço de transporte urbano, carros sobre trilhos de ferro, puxados por animais, do Largo do Rossio (Praça Tiradentes) ao Alto da Boa Vista, na Tijuca - dois carros importados da Inglaterra, semelhantes aos vagões da Estrada de Ferro D. Pedro II (Central do Brasil) que na época chegava até o Engenho Maxambomba, localidade hoje Nova Iguaçu, daí CARIOCA logo apelidou os carros de "maxambombas". --- Em janeiro/1859, a companhia testou a velocidade e segurança do primeiro bondinho puxado a burro e em novembro/1866 cessou definitivamente o tráfego de seus veículos. ---- O BARÃO DE MAUÁ, dono da primeira concessão, organizou em 1862 a Companhia de Carris de Ferro do Jardim Botânico. Apesar da injusta campanha feminista de 'senhoras' que o novo meio de transporte "misturava" gente do povo com pessoas de hábitos educados, ele não arrefeceu e até negociou com um grupo norte-americano, encabeçado por CHARLES B. GREENOUGH; em 1866, transferiu ações de sua companhia para a empresa estrangeira, agora nomeada Botanical Garden Rail Road Company, oficialmente inaugurada em 1868 esta primeira linha de bonde a tração animal, trajeto de uma esquina da Rua do Ouvidor com a Gonçalves Dias, término no Largo do Machado (ainda obras de assentamento dali até a Praia de Botafogo e depois Jardim Botânico) - veículos fechados, 30 passageiros, viaturas abertas em 1870 para fumantes, tipo mais leve e adequado a nosso clima, suplantou o fechado. --- A palavra aportuguesada 'bonde' /posterior nome do veículo/ surgiu porque ainda não existiam moedas de níquel (somente surgidas em 1872) e havia dificuldade com as passagens de 200 réis, daí foram emitidos pequenos cupons ou bilhetes em grupos de cinco, ao preço de 1 mil-réis de que havia abundância de notas com o desenho do veículo - nos States, os cupons se chamavam 'bonds'; assim, cupons eram comodidades, bolsos leves e representavam dinheiro. --- Surgiram empresas congêneres para São Cristóvão e Vila Isabel, e outras menores.

3---SURGIMENTO DO BONDE ELÉTRICO --- Em 1848, os ingleses substituíram a tração animal pelo BONDE mecânico e na cidade de Bristol circulou um desses veículos puxado por máquina a vapor, 60 passageiros. Em 1877, em Nantes, França, BONDE com ar comprimido como motriz - também em Paris, BONDE a vapor em 1878, sem resultado prático, maior aperfeiçoamento com a eletricidade, Paris, 1881, carro elétrico circulando nos Campos Elíseos, em volta da Exposição Internacional de Eletricidade, ainda não o resultado desejado. Em 1884, na cidade de Cleveland, States, o primeiro BONDE elétrico. --- Na América do Sul, o RIO foi a primeira cidade a ter circulação de BONDE elétrico, outubro/1892 (desde abril, a Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico, agora empresa nacional), este BONDE conduzindo até FLORIANO PEIXOTO, vice-presidente da República em exercício, e convidados, sob aplausos do povo, da curva do antigo Teatro Lírico, subindo Rua Senador Dantas, deslizando pela Rua do Passeio, Cais da Lapa, praias do Russell e do Flamengo, até a estação do Largo do Machado, onde foram servidos copos d'água. Cartaz no encosto dos bancos para aliviar medo: "A corrente elétrica nenhum perigo oferece aos Srs. passageiros." --- Em 1904, constituiu-se, no Canadá, a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited (modernamente Light - Serviços de Eletricidade S. A.) para introduzir no RIO a energia gerada por força hidráulica destinada à iluminação, força motriz e outros fins industriais. Em 1905, funcionamento no país, construção da Usina Elétrica de Ribeirão das Lajes no Estado do Rio, e controle acionário das companhias de São Cristóvão, Vila Isabel e Carris Urbanos. Em 1907, contrato definitivo de unificação, eletrificação e desenvolvimento das linhas de carris. Adotado o trilho de fenda: bitola uniformizada em 1,435m; para a tração elétrica, empregado o sistema de contato aéreo com retorno da corrente pelos trilhos e fios necessários; linha aérea a 5,50m no mínimo acima da superfície de rolamentos; novos tipos de carros dotados de estribos móveis; plataformas na frente e atrás; faróis; cortinas de corrediças salva-vidas e freios de tipo aperfeiçoado; reboques também iluminados a eletricidade; motorneiros e condutores uniformizados.

(Segue.)

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 25/08/2019
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