As duas árvores da casa do meu avô
À casa do meu avô ficava entre duas árvores enormes. No terreiro da frente ficava nosso tamarindo lugar onde brinquei muito quando menino de dez ou doze anos fase em que eu lia muito o poeta Augusto dos Anjos e Olavo Bilac. Na parte traseira da nossa casa ficava a nossa grande cajazeira que dava duas safras durante o ano e matava a fome da meninada pobre de Malhadinha e sobretudo dos porcos famintos do seu Raimundo Jerônimo. A tia Josefa tinha uma raiva ingente da nossa cajazeira porque além de sujar o terreiro, a meninada vinha rebolar pedras e comer os frutos azedos daquela árvore frondosa e linda. O nosso tamarindo também safrejava e chamava atenção dos porcos e mormente da criação alheia que vinha dormitar a hora da sesta quase todos os dias, deixando a tia Josefa revoltada com a sujeira que ficava. Eu tinha pelo nosso tamarindo um apreço enorme porque era ali onde eu armava a minha rede de tucum para ler Gustavo Barroso, Coelho Neto, Tobias Barreto e palestrar com os nosso vizinhos. As cinco horas da matina a gente acordava com o cantar do canário ou o estalo da melopeia da graúna que dormia no talo da carnaubeira ao lado direito do velho casarão onde nasceu meu pai e onde fui criado desde os dois anos quando perdi minha genetriz. A tia Josefa não gostava nem do nosso tamarindo muito menos da nossa velha cajazeira que se findou no ano de 85 com a grande cheia do vale do Jaguaribe. Eu amava o nosso tamarindo como se ele fosse um ser humano porque ele era no meu tempo de menino travesso um ponto de referência das minhas travessuras e também um lugar preferido para eu ler os melhores livros durante o meu tempo de garoto liberto e órfão. Debaixo do nosso tamarindo eu vi se acabar a canoa do meu avô Agostinho José de Santiago Neto, como também outros apetrechos de trabalho da casa do meu progenitor que amava os livros e adorava a cultura.