Poeta é um bicho besta!
Poeta é um bicho tonto!
Fica pelai rimando amorflordor, amantedistantecante e se esquece de viver.
Arruma uma musa impo-impassível e derrama para ela – só para ela – seus gritos de paixão, suas cismas absurdas, seus carmas freudianos e pensa que é intelectual.
Cria o mote, modela as palavras, corta, recorta no afã do ritmo e da intengibilidade e mal termina tem a insana idéia de que aquilo é a maior obra prima que a humanidade gerou.
Jornais darão em manchete. Editores baterão na porta implorando que ceda os direitos. A rede Globo fará um programa especial por aquele amontoado de palavras rimadas ou não, falando do seu amor pela Carolina dos novos tempos. E a Academia. . . bem, a Academia o saudará como o novo expoente da literatura brasileira. Quiçá, mundial.
Poeta é um bicho distraído!
Concentra-se tanto em sua maquinações poéticas que se esquece das pessoas ao seu redor. Dos amigos reais, trocados pelos ”amigos virtuais” que quase sempre elogiam suas odes, seus sonetos e até – cúmulo dos cúmulos – seus versos livres.
Esquece-se da menina que mora ao lado e nada mais quer que sua companhia para um passeio na praça. . . ou um misto quente na lanchonete do tio, para se dedicar 24 horas em espremer sucosidéias de amor impossível para uma mulher mais ainda.
Uns ainda tentam poemas sociais. Menos mal!
E dá-lhe crianças abandonadas! E dá-lhe prostitutas querendo remissão! E dá-lhe velhos querendo carinho e atenção!
Poeta é o tipo de sujeito que passa a vida com os pés no chão e a cabeça nas nuvens.
O tipo do cara que adora um muro branco só para poder escrevinhar nele suas estrofes.
E sonham. Como sonham os poetas!
Sonham que um dia serão conhecidos por todas as pessoas. Sonham que seus versos serão decorados por todos os amantes. E suprasumo das ambições: seus poemas farão parte integrante dos textos dos livros didáticos nos próximos anos.
Poeta é um bicho besta!
E quer viversejando todo o tempo.
E todos tem esse vírus dentro de si. Até o mais empedernido dos homens já rimou Maria com queria ou paixão com coração. Eu queria era ver arrumar rima para lâmpada! Aí sim! E todos também já leram sua poesiasinha um dia. Ou decoraram algum do Vinicius ou JG de Araújo Jorge e falaram no ouvido de alguma menina desintelectualizada, afirmando que era sua.
Pronto! Taí! Eu confesso: já cometi poesias na vida. Sou normal, merda!
Já me apaixonei! Já me desapaixonei! Já passei noites em claro tentando arrumar rimas para musas de nomes esdrúxulos! Já considerei meus poemas uma glória antes de acordar com ressaca no outro dia. Porque poeta que se preze escreve o nome da amada no suor da cerveja. Poeta que se preze desenha corações atravessados por uma flexa com seu e o nome dela dentro.
Mas que ainda acho que poeta é um bicho tonto, acho!