Olhos Dengosos - BVIW
Não se pode esquecer o passado com os rostos emoldurados pela casa, desse jeito, nenhum santo ajuda. É muita tentação para um pobre coração, e os olhos não sabem disfarçar, eles flertam com a maldade. São dengosos por demais. Entre um quadro e outro, a memória sensorial desperta as lembranças, outrora, felizes. Mas não demora muito, e como disco de vinil arranhado, na parte boa, começa a pular; e o que era visto na parede como admiração, virou muro das lamentações. Impossível de contemplar, pois colecionar fragmentos de uma relação em extinção, é exposição velada. Claro, que a acomodação dar-se-á com o tempo, mas não é olhando as fotografias, nem congelando a imagem, não mesmo. É necessário perceber que o momento passou e com ele, todo o pertencimento. Liberar espaços e mudar o ambiente cria uma atmosfera saudável. A parede não é um lugar de calvário, nem cruz para pregar o que já morreu, ela representa uma página em branco, um lugar de inspiração.