Se tem um prazer do qual não me furto é de mudar os móveis de lugar. Não sou adepta dos planejados, embora tenha me rendido a eles em alguns cômodos, apenas pela facilidade e rapidez com que são organizados. Assim também na vida, quantas vezes fiz opção pelo mais rápido embora desejasse algo diferente, completo. O lustre foi trocado por algum de pronta entrega, o piso, o carro também. Os afoitos (tipo 1) perdem boas oportunidades de colher os frutos maduros, bem exemplificaria as jabuticabas da entrada do sítio, na euforia de degustá-las, muitos vizinhos, retiram a fruta antes do tempo e por isso, jamais conseguiram experimentar o sabor real do fruto maduro, em seu tempo certo. Aliás, por falar em tempo certo, a “new generation” se perdeu nesse conceito soberano, e de modo urgente quer assistir o sucesso, que só no dicionário vem antes de trabalho. Planejar é acidente de percurso e surge a sociedade dos riscos, que não se restringem aos rabiscos feitos na infância. Despontam assim, os sentimentos líquidos que escorrem das jarras a qualquer impulso. E a era do descartável se instala. Os móveis já não servem mais e são jogados fora, como são também dispostos os sentimentos e as pessoas. Tirar o retrato da parede e deixá-lo na dispensa empoeirado, sem contudo tapar os buracos, apenas pra dar ideia de outra identidade. Lembranças à parte: morreu quem morreu, comeu quem comeu, viveu quem viveu. Mudaram as estações e tudo mudou no tempo, não em favor delas, mas dele, o senhor da razão.