Em tons de ferrugem (BVIW)
A sala da antiga casa estava quase vazia, os móveis, os tapetes, as cortinas e os lustres já ocupavam, passivamente, seus lugares em outro espaço. Fica uma sensação de silêncio nas lembranças que, aos poucos, se despedem do piso de madeira, das portas e das janelas... Parece o fim de uma apresentação teatral- quantas histórias uma sala, seus moveis e objetos de decoração (personagens) têm para contar?
Estava assim pensando, quando observava uma das paredes em tom de azul – claro, ainda havia um retrato a ser retirado e, próximo a ele, um solitário prego enferrujado. Sempre que observo um prego assim, lembro- me de um lindo conto (The Canary) da escritora inglesa Katherine Mansfield; no qual a personagem principal é uma mulher solitária que senti saudades de seu canário, ao olhar o prego na parede sem a gaiola...
Aos poucos, Mansfield com suas letras apaixonantes (Fluxo de Consciência), nos leva a um mundo onde o canto do pássaro, além de alegrar o dia da senhora é também sua única companhia.
São interessantes e reflexivas essas conexões que estabelecemos com a Literatura... Sinto um encanto e saudade ao tirar o retrato da parede, que poderá ser trocado de lugar ou substituído, mas nunca esquecido...