Doença da cabeça

Chegou pra organizar o jardim. Fala baixa e pouca conversa, mas todas as plantas que ele tocou floresceram e o jardim ficou com uma cor mais viva. De repente ele não aparece na data combinada e a notícia vem: ele está internado com “problema de cabeça”. Pensei em um tumor, mas quando falei com ele, a surpresa...

- agora estou um pouco melhor, mas fiquei dezessete dias internado

- mas o que houve?

- ah, é uma longa história. Há dois anos perdi um irmão e fiquei achando que havia superado a dor da perda, mas comecei a pensar muito nele e até mesmo a ter visões, surtei!

Lembrei da minha crise depressiva de uns anos atrás e como a “doença de cabeça” é igual a qualquer outra que acomete outras partes do nosso corpo.

Mas então porque não é vista com, digamos, a mesma naturalidade, quer seja por quem está sofrendo como pelos outros que o rodeiam?! Uma doença do corpo parece que aproxima as pessoas e a da cabeça parece que afasta, como se a cabeça não fizesse parte do corpo!

Estranho isso! Claro que existem vários tipos de problemas mentais, alguns muito sérios, que exigem o afastamento do indivíduo até do convívio social, mas no caso do meu amigo, como no meu, são doenças que o tratamento permite o retorno à vida normal, mesmo que com acompanhamento médico rotineiro.

No meu caso, por exemplo, tinha a impressão que pairava sobre a minha cabeça uma enorme nuvem negra e, por mais que olhasse para os lados e via que tudo estava bem, não conseguia ficar tranquila, sentia uma grande angústia. A psicologia não deu conta sozinha e o psiquiatra acertou de cara: problemas hormonais, hipotireoidismo resolvido e pronto, fiquei sem a nuvem negra sobre a cabeça, restando as loucura normais dos humanos.

Meu amigo entende que o caso dele se deve a sentimentos de perdas que não foram bem aceitos, mas que ele achava que tinha dado conta, afinal parecia que tudo estava indo bem na sua vida. Só que não!

Fiquei aqui pensando: como ficamos sabendo se estamos “levando bem” as coisas da vida? Por que não se tem o hábito de procurar os especialistas de cabeça (cérebro), rotineiramente como se faz com outras especialidades?

Estudamos o corpo humano como sistemas e não são poucos, são quatorze, mas as entranhas do nosso cérebro, que se misturam com a alma e resultam no nosso fazer, agir e ser é complicado de cuidar e de prevenir as tais doenças de cabeça. Mas acredito que há prevenção, talvez o que precise ainda é desmistificar o psicólogo e o psiquiatra, como quando falei pra minha mãe que a levaria num psiquiatra e ela disse que não iria, pois não estava louca! Quem sabe também, aprender um pouco mais com a medicina oriental, que trata o ser humano por inteiro, incluindo os sentimentos que marcam a alma?! Sei lá...

Tânia França
Enviado por Tânia França em 19/08/2019
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