QUAL SERÁ O ESCÂNDALO DE HOJE?
Há momentos na vida em que ela vira um grande escotoma. Certas coisas que estão debaixo do nosso nariz deixam de ser vistas. Todos os mamíferos têm determinados “pontos cegos” em seu campo visual. São anomalias da retina que acontecem em razão de algum problema com o nervo ótico. Alguns são psicológicos. Em psicologia, escotomas acontecem quando somos submetidos a estados estressantes. É uma mancha que se interpõe no nosso sistema visual e nos impede de ver o que está na frente dos nossos olhos. Isso já aconteceu comigo. Entrei apressado em casa, joguei a chave do carro em cima da mesa da cozinha. Tinha que sair imediatamente para cuidar de outro assunto, e estava atrasado. Mas cadê a danada da chave? Revirei a casa inteira à procura dela e nada. Já estava ficando desesperado. Aí minha mulher me disse: “ Não são essas que estão em cima da mesa?” Eu estava olhando justamente para a dita mesa. “Puxa vida,” disse minha mulher. “ Se fosse uma cobra ...”
Uma coisa puxa a outra. O mundo em que vivemos é um verdadeiro caleidoscópio, que muda de cor e forma a todo instante. Se não aprendermos a ver essas mudanças, e mais que isso, a senti-las, ficaremos como aquele personagem do João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina, que em dado momento se sentiu um homem acompanhando o próprio enterro.
A mídia faz isso com a gente. Quando fareja algum assunto que pode dar matérias de grande repercussão ela fica martelando aquele assunto com tal intermitência que a gente não consegue ouvir nem ver outra coisa.
É o que está acontecendo agora. A crise política econômica e moral que estamos vivendo tomou conta do noticiário de uma forma tal, que tudo o mais parece sem importância. A gente abre os jornais se perguntando: qual será o escândalo do dia? No entanto, qual foi a época, em nosso país, que isso foi diferente?
Geralmente é a minha mulher que costuma limpar os escotomas psicológicos que a mídia coloca nos meus olhos. Ontem eu estava vendo o jornal da noite na TV quando ela entrou no quarto e perguntou:
“Você não cansa de ver as mesmas notícias o dia inteiro?”
“ Como assim, querida?”
“ Isso já passou no jornal da manhã, no jornal da tarde e Jornal Nacional”.
“ É mesmo, né?”, foi a única resposta que eu consegui dar.
Foi então que desliguei a televisão e comecei a ler um livro que estava na cabeceira da minha cama, esperando, já há bastante tempo que eu voltasse os olhos para ele e começasse a lê-lo. Não sei se isso tem a ver, mas acordei em excelente estado de humor. Acho que vou viajar.
Como disse, certa vez, um poeta: “vi, com olhares novos as coisas velhas, e um mundo que estava morto, ressuscitou perante os meus olhos”.
Há momentos na vida em que ela vira um grande escotoma. Certas coisas que estão debaixo do nosso nariz deixam de ser vistas. Todos os mamíferos têm determinados “pontos cegos” em seu campo visual. São anomalias da retina que acontecem em razão de algum problema com o nervo ótico. Alguns são psicológicos. Em psicologia, escotomas acontecem quando somos submetidos a estados estressantes. É uma mancha que se interpõe no nosso sistema visual e nos impede de ver o que está na frente dos nossos olhos. Isso já aconteceu comigo. Entrei apressado em casa, joguei a chave do carro em cima da mesa da cozinha. Tinha que sair imediatamente para cuidar de outro assunto, e estava atrasado. Mas cadê a danada da chave? Revirei a casa inteira à procura dela e nada. Já estava ficando desesperado. Aí minha mulher me disse: “ Não são essas que estão em cima da mesa?” Eu estava olhando justamente para a dita mesa. “Puxa vida,” disse minha mulher. “ Se fosse uma cobra ...”
Uma coisa puxa a outra. O mundo em que vivemos é um verdadeiro caleidoscópio, que muda de cor e forma a todo instante. Se não aprendermos a ver essas mudanças, e mais que isso, a senti-las, ficaremos como aquele personagem do João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina, que em dado momento se sentiu um homem acompanhando o próprio enterro.
A mídia faz isso com a gente. Quando fareja algum assunto que pode dar matérias de grande repercussão ela fica martelando aquele assunto com tal intermitência que a gente não consegue ouvir nem ver outra coisa.
É o que está acontecendo agora. A crise política econômica e moral que estamos vivendo tomou conta do noticiário de uma forma tal, que tudo o mais parece sem importância. A gente abre os jornais se perguntando: qual será o escândalo do dia? No entanto, qual foi a época, em nosso país, que isso foi diferente?
Geralmente é a minha mulher que costuma limpar os escotomas psicológicos que a mídia coloca nos meus olhos. Ontem eu estava vendo o jornal da noite na TV quando ela entrou no quarto e perguntou:
“Você não cansa de ver as mesmas notícias o dia inteiro?”
“ Como assim, querida?”
“ Isso já passou no jornal da manhã, no jornal da tarde e Jornal Nacional”.
“ É mesmo, né?”, foi a única resposta que eu consegui dar.
Foi então que desliguei a televisão e comecei a ler um livro que estava na cabeceira da minha cama, esperando, já há bastante tempo que eu voltasse os olhos para ele e começasse a lê-lo. Não sei se isso tem a ver, mas acordei em excelente estado de humor. Acho que vou viajar.
Como disse, certa vez, um poeta: “vi, com olhares novos as coisas velhas, e um mundo que estava morto, ressuscitou perante os meus olhos”.