Pecados capitais* (26/06/2019)
Saí de mim por um instante. Era a primeira aparição de mim mesmo, naquele mundo novo. Estava nu.
No entanto, descrever o que vira é quase que insano. A vista percorreu um grau de percepção possível. O que concebera aquele lugar fora a insignificância! Não era digno de um fiel signatário das boas novas e amado Rei.
O que fazer no meu primeiro ato como venerando?
A quem julgar? A quem culpar? A quem punir? Como senhor de ninguém, tornava-me a mais tola das criaturas... E não há meritocracia em ser soberano de si mesmo. Da luxúria, passei à cobiça.
Pronunciei um discurso breve e que apenas fez ecoar as minhas próprias palavras. Nada se curvava a minha presença. No entanto, aquele pseudopoder...
Reparei no meu corpo que saía do chão, feito raiz de planta, fincado: era um amealhado de restos. Uma falsa cabeça por sobre os ombros... Não sustentavam o mundo.
Compaixão foi o meu segundo ato.
E me veio uma letargia sem fim. Eu implorei pelo salário do pecado. Não queria estar vivo. Não se fosse ter que ser, eternamente, maior que os maiores vermes e menor que as menores árvores.
Foi quando chorei por invejar os outros reinos, tão diferentes daquele vale de coisa alguma. Preferi me cortar por dentro para não ter que que mostrar as cicatrizes. Mas, a ferida apodreceu a carne.
A quem pedir perdão? E assim passei para o terceiro ato.
Ao não me contentar com o que me fora confiado, senti a ira Divina:
- És criatura e sempre serás. Tenhas como certo o reino que te acolheu. Alimenta-te do que for necessário para a tua gulodice e torne-o um lugar bom, pois ele é você.
E nem o meu galardão fui eu que concedi.