Se tem uma coisa que a vida tem feito questão de me ensinar a duras penas é que não se controla nada, haja vista o meu cabelo. Tinha uma amiga que era alucinada por cachaça. Tão apaixonada que a sua maior alegria era receber de presente uma garrafa. Então já estava garantida a lembrança dela em qualquer viagem. Era difícil carregar, a logística não ajudava, mas o esforço e a expectativa valiam a pena. Mas o que me intrigava era a dificuldade que ela tinha em abrir uma cachaça especial. Ela dizia: - Vou esperar um momento também especial.
Nesta brincadeira, já tinha uma “coleção induzida” de cachaças que já ultrapassava mais de 300 e as ostentava com orgulho, lembrando exatamente da história de cada uma. Quantas vezes perguntei sobre a mesma só pra ter certeza que não erraria e lá estava ela discorrendo sobre cada uma das situações que viveu quando do recebimento de cada garrafa.
A última que a vi experimentar foi no dia em que passou no Doutorado. Era um sonho. Havana era o nome da magia que a fez brilhar os olhos, trouxe do interior de Minas pra ela. Como não sou adepta de bebidas alcóolicas, fiquei mais feliz com à felicidade experimentada ao receber. Como se fosse um prêmio! Poderosa! Rimos muito naquele dia. Ela parecia ter encontrado um tesouro e no fundo era o último.
No dia em que foi à primeira aula, sentiu uma dor nas costas. Cadeira dura, tomou um analgésico. Dois meses depois continuava. Ela foi ao médico e pronto: Câncer na coluna (metástase óssea). Foram 8 meses de luta até a despedida. Todos os amigos estavam lá e desolados. Seis meses depois, o viúvo resolveu se casar e a festa foi regada à cachaça: comida de boteco. Nada contra a vida ir se refazendo, mas essa situação acabou por tocar numa ferida: por que insistimos em deixar pra depois as coisas mais simples da vida? Vestir a roupa comprada sem ocasião, calçar o sapato novo pra passear na padaria, visitar a amiga distante que morre de saudades mas anda sem grana, beber a cachaça especial no almoço de segunda-feira, abrir o vinho da safra de 79 e beber vendo Netflix. Não que a partir daí sejamos irresponsáveis saindo feito loucos ultrapassando os limites e vivendo de consequências, mas tomar um sorvete de R$129,90 o kilo, que só verei uma única vez, já me dou o luxo. Não guardo cachaças, nem vinhos, nem roupas novas. Parei de pagar cremação, se eu morrer amanhã haverá quem lute pra que eu não seja enterrada, morro de medo só de pensar na terra me sufocando. - Mas você não estará morta? Sim! Mas vai que continuo sentindo? Além do mais, dependendo da forma em que se morte, nem enterrar é possível. Brincadeiras à parte, a vida é um sopro... É clichê, mas é sóbrio. Por mais cachaças reais no cotidiano que insiste em pregar peças... Abra a cachaça e fique de fogo enquanto é tempo! Sem exageros, é claro.
Nesta brincadeira, já tinha uma “coleção induzida” de cachaças que já ultrapassava mais de 300 e as ostentava com orgulho, lembrando exatamente da história de cada uma. Quantas vezes perguntei sobre a mesma só pra ter certeza que não erraria e lá estava ela discorrendo sobre cada uma das situações que viveu quando do recebimento de cada garrafa.
A última que a vi experimentar foi no dia em que passou no Doutorado. Era um sonho. Havana era o nome da magia que a fez brilhar os olhos, trouxe do interior de Minas pra ela. Como não sou adepta de bebidas alcóolicas, fiquei mais feliz com à felicidade experimentada ao receber. Como se fosse um prêmio! Poderosa! Rimos muito naquele dia. Ela parecia ter encontrado um tesouro e no fundo era o último.
No dia em que foi à primeira aula, sentiu uma dor nas costas. Cadeira dura, tomou um analgésico. Dois meses depois continuava. Ela foi ao médico e pronto: Câncer na coluna (metástase óssea). Foram 8 meses de luta até a despedida. Todos os amigos estavam lá e desolados. Seis meses depois, o viúvo resolveu se casar e a festa foi regada à cachaça: comida de boteco. Nada contra a vida ir se refazendo, mas essa situação acabou por tocar numa ferida: por que insistimos em deixar pra depois as coisas mais simples da vida? Vestir a roupa comprada sem ocasião, calçar o sapato novo pra passear na padaria, visitar a amiga distante que morre de saudades mas anda sem grana, beber a cachaça especial no almoço de segunda-feira, abrir o vinho da safra de 79 e beber vendo Netflix. Não que a partir daí sejamos irresponsáveis saindo feito loucos ultrapassando os limites e vivendo de consequências, mas tomar um sorvete de R$129,90 o kilo, que só verei uma única vez, já me dou o luxo. Não guardo cachaças, nem vinhos, nem roupas novas. Parei de pagar cremação, se eu morrer amanhã haverá quem lute pra que eu não seja enterrada, morro de medo só de pensar na terra me sufocando. - Mas você não estará morta? Sim! Mas vai que continuo sentindo? Além do mais, dependendo da forma em que se morte, nem enterrar é possível. Brincadeiras à parte, a vida é um sopro... É clichê, mas é sóbrio. Por mais cachaças reais no cotidiano que insiste em pregar peças... Abra a cachaça e fique de fogo enquanto é tempo! Sem exageros, é claro.