Por onde andará a minha Amélia?
Ai, que saudade de Claudinha! Digo, de Paulinha. Aquela sim, é que era mulher de verdade. Passava fome e ainda achava bonito não ter o que comer. A Paulinha? Não. A Amélia. Amélia Cristina dos Anjos. Mas não era como a da música não. Só os poetas conseguem arranjar mulher assim. As tais musas. Deusas, rainhas, afrodites, ninfas. Nenhuma baranga. Carinhosas, gostosas, compreensivas e polidas. Mulheres sem TPM e crise existencial. Os mortais, como eu, têm que se contentar com marias e joanas, rainhas da impaciência, deusas da incompreensão, ásperas tal qual lixa grossa de raspar madeira, delicadas como elefante em loja de louça.
A minha Amélia não era como a da música, mas era diferente dessas barangas de quinta categoria. Doce, alegre, sorridente, embora eu gostasse mais quando ela ficava de boca fechada. É que lhe faltavam três dentes na frente. Uma vez um candidato a vereador lhe prometeu uma dentadura postiça, ela ficou feliz, deu duro na campanha e depois de eleito, sumiu na buraqueira sem deixar rastro. E a nega ficou desdentada, expondo a boca de trave sem goleiro. Por isso que ela achava bonito não ter o que comer: não podia mastigar.
Um dia, achei que a sorte mudaria e apostei todos os meus vinténs na Amélia. Tudo. Um lance só. Vermelho, vinte e sete. Jogo no pano! Deu preto, dezessete, como no tango de Herivelto Martins e David Nasser. Amélia sorriu reconfortante e me perguntou a título de consolo: “Meu filho, que se há de fazer?” Em seguida deu-me um beijo delicado na ponta do nariz, virou as costas e desapareceu no breu da noite levando o crupiê à tiracolo.