Sextou, e Segue o Fluxo

Caminhando bem cedo, rumo ao Metrô que leva à Tijuca, vi situações que julgo poderiam melhorar. Carece crer que muitos esforços têm sido praticados nesse sentido mas ainda são pequenos e quase não suportam as próprias conquistas.

No primeiro tempo do que vi pelo caminho, senti a alegria das pessoas na manhã desta sexta, eram pessoas comuns com destinos variados, outras com crianças alegres, outras com crianças choramingando. Parece que a rotina cansa, mas é necessária, tudo por uma vida melhor e mais humana. Senti que caminhava num local bem estruturado, com construções novas e alegres também, talvez reflexo da presença de pessoas alegres que circulavam por ali. Vias bem desenhadas, marcadas, limpas, pois, as chuvas dos últimos dias fizeram a faxina. 0 sol radiante e quente pela manhã quebrava o gelo da massa polar que ainda sobrevoava nossa cabeça. Viajantes sem destinos, vendedores, camelôs, pacientemente se misturavam nesse cenário deslumbrante favorecido pelo sinal de que o fim de semana seria de praia e quente e lotada, pois, com toda razão, ninguém prioriza perder uma grana se o tempo não colaborar para isso, então, a corrida tinha sentido até aqui. Buscar uns trocados a mais.

No segundo tempo, já no Metrô, nos vai e vens das infinitas buscas por viver melhor vem um camelô oferecendo cabos para celulares com total qualidade e perfeição, mas sem garantias e esse povo arriscava a compra timidamente e quando um levantava a mão a alegria do camelô era sensível e a convicção de faturar aquela venda o obrigava ser gentil. E lá ía ele de vagão em vagão na corrida por mais uma venda e assim vinham outros vendedores com balas, chocolates, chips, e outros, tudo meio camuflado. Mas de repente alguém dá um tom na viola e calado continua, alguns olham, outros continuam entretidos nos celulares, porém, ao abrir a caixa vocal numa voz rouca e afinada todos olham e ele por dentro sorri pensando, chamei a atenção, vem cantando um clássico da MPB, Asa Branca, e o vagão começa tímido a acompanhar o canto, logo, a viola para e todos cantam à capela. Numa fração de minutinhos, o artista para e descreve seus sonhos, como se lapidasse um cristal e que a gente sabe ser necessário ao seu ganho também. Como falei estamos numa sexta e ela sextou para ele que retira seu chapeuzinho e o percorre de banco em banco recolhendo algumas moedas, mas, pensando bem, quem agrada é agradecido, a turma do vagão foi gentil e mais uma estação se abre e a janela continua aberta à mercê de mais pessoas, até suplicantes, porém quem mais conversa com todos é o alto-falante, arriscando oferecer informações e sugestões de melhor viver. E foi assim a viagem da ilusão, da rotina que vivemos no Rio de hoje.

Num terceiro tempo, o vagão foi esvaziando, cadeiras ficando vazias, rostos cheios de esperanças, todos pareciam, agora, desconhecidos e silenciosos e o vagão, vazio do calor humano, vagarosamente toca seu sino e transfere a quem ainda está ali sua mensagem de despedida, indicando que após a próxima parada será o fim daquela viagem. Foi-se mais uma sexta na vida de quem levará anos a fio na rotina da busca pela vida melhor. 0 trem fará novo começo e nossas vidas não, a sexta ainda ainda não terminou. Recomeçarão novas buscas com o trem despertando as manhãs e o tempo passando pelas estações, Praça Saenz Peña foi meu destino.

Também fiz isso 11 anos estudando, 31 anos trabalhando, sem contar os fins de semana na praia, no samba, no Cristo, no Maraca, lá quando os tempos eram outros. Nem vi como aquele tempo passou, claramente só vi a manhã de hoje passar, logo mais tem aquela sardinha frita, aquela "breja", na beira da praia...e segue o fluxo, bom fds.

Sangy

Sangy
Enviado por Sangy em 16/08/2019
Reeditado em 24/09/2019
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