Mentirinhas
Eu às vezes penso que certas mentirinhas são essenciais. O que me incomoda, são as grandes mentiras – as que podem machucar alguém, esconder informações importantes ou relega-las apenas a um grupo restrito. Quem diz que nunca mentiu, bem... está mentindo!
Se você puxar pela memória um pouquinho, vai acabar se lembrando de alguma vez em que usou o recurso da mentira para evitar aborrecimentos, agradar pessoas ou conseguir algum favor (ou até mesmo um emprego). Existem as mentirinhas brancas – aquelas que a gente conta para evitar ferir alguém. Elas podem ser aquelas que contamos ao sermos convidados para um evento ao qual não estamos com vontade de ir, e dizemos que temos um outro compromisso. Ou quando alguém nos pede a nossa opinião sobre alguma coisa – uma roupa nova, a cor da parede da casa, o novo corte de cabelo – e somos forçados a dar aquele sorriso amarelo e dizer algo como “Está legal...”
Eu frequentemente cometo ‘sincericídio’ (o suicídio social por dizer a verdade, doa a quem doer), e talvez por isso, as pessoas acabem se afastando de mim. Bem, devo dizer que algumas se aproximam justamente por este motivo. É que eu às vezes não consigo controlar a minha indignação ao ouvir certas bobagens. Não consigo apenas balançar a cabeça, disfarçar com um sorriso e olhar a paisagem enquanto alguém declara algo que é mentiroso, prejudicial ou preconceituoso. Minhas mãos tremem, o coração acelera, a boca abre... e a voz sai.
Pronto: estraguei tudo de novo. Logo agora, que eu prometi a mim mesma que não ia mais dizer tudo o que eu penso.
Existem mentirosos compulsivos. Eles mentem o tempo todo, sobre as maiores ou menores coisas. Já tive alguns amigos assim. Eles são bem irritantes. É só você contar uma história qualquer e eles logo contam uma parecida sobre um tio ou amigo distante. Basta que você diga que não sabe fazer alguma coisa e eles se dizem especialistas. Este tipo de mentira, além de não prejudicar ninguém, pode até soar engraçada. Quando eles vão embora, é claro.
Mas aqueles mentirosos que gostam de esconder certas informações a fim de controla-las – por mais inocentes que estas informações possam ser – me irritam profundamente. Eles gostam de saber mais que os outros. Gostam de decidir o que contar e o que não contar, o que os outros podem ou não ficar sabendo, segundo os critérios deles. Gostam mesmo é de se sentirem poderosos. Dizem que o outro não é forte o suficiente para ficar sabendo de uma verdade, e desta forma, mantém tal pessoa sob suas asas sufocadoras o tempo todo enquanto alegam que os estão protegendo, quando na verdade, eles têm o ego inflado. Gostam que os outros os olhem como bons samaritanos.
E finalmente, existe aquele mentiroso manipulador mesmo. Mente para se dar bem, ganhar a confiança alheia e depois apunhalar as pessoas pelas costas. Estes são os mais perigosos, pois mentem porque são maus, e não sabem ser de outro jeito. Graças a Deus, tenho um ‘feeling’ ótimo para identifica-los e ficar bem longe deles. Com um pouco de prática e observação, qualquer um consegue também. Basta tirar os óculos cor-de-rosa e olhar as pessoas como elas realmente são, mas sem criar neuroses, pois afinal de contas, todos mentimos.
O importante é, antes de mentirmos, nos perguntarmos o porquê de estarmos fazendo isso. Existem algumas boas razões para mentirmos, mas elas são poucas, e existem muitas más razões para mentirmos, e elas são muitas. Antes de abrirmos a boca para contar uma mentira, devemos pensar se, na verdade, não estamos mentindo para nós mesmos. Quando mentimos sobre coisas importantes, muitas vezes mentimos para enganarmos a nós mesmos. Se mentimos para as pessoas que nós amamos, é porque sabemos que a nossa verdade real poderá nos ferir. Talvez tenhamos preguiça de admitir certas coisas a respeito de nós mesmos e de nossas próprias vidas, o que nos obrigaria a aceitar mudanças que nos tirariam da zona de conforto.
Por exemplo: aquela pessoa que se droga, mas esconde de todos. Ou o cônjuge que trai seu companheiro(a) e se sente muito mal por isso.
Mas embora encarar a verdade possa ser difícil e doloroso no começo, depois isso se torna natural. Não termos que mentir para nós mesmos nos alivia de um grande peso, pois é como se uma carga inútil e enorme estivesse sendo tirada dos nossos ombros para sempre; passamos a caminhar com mais leveza. E o mais importante: não teremos mais necessidade de mentir para os outros. Nunca mais magoaremos alguém que amamos por causa de mentiras.
Uma grande mentira está sempre cercada de outras mentiras grandes, pequenas ou médias que devem sustenta-la. É um jogo perigoso, pois ninguém tem uma memória tão boa a fim de conseguir lembrar-se de todos os seus argumentos mentirosos. Mais cedo ou mais tarde, acabarão dando com a língua nos dentes e cometendo alguma gafe que os exporá e às suas mentiras.
Quanto a mim, eu prefiro ser conhecida como uma pessoa que às vezes comete sincericídio do que como uma mentirosa. E quanto a você?
Eu às vezes penso que certas mentirinhas são essenciais. O que me incomoda, são as grandes mentiras – as que podem machucar alguém, esconder informações importantes ou relega-las apenas a um grupo restrito. Quem diz que nunca mentiu, bem... está mentindo!
Se você puxar pela memória um pouquinho, vai acabar se lembrando de alguma vez em que usou o recurso da mentira para evitar aborrecimentos, agradar pessoas ou conseguir algum favor (ou até mesmo um emprego). Existem as mentirinhas brancas – aquelas que a gente conta para evitar ferir alguém. Elas podem ser aquelas que contamos ao sermos convidados para um evento ao qual não estamos com vontade de ir, e dizemos que temos um outro compromisso. Ou quando alguém nos pede a nossa opinião sobre alguma coisa – uma roupa nova, a cor da parede da casa, o novo corte de cabelo – e somos forçados a dar aquele sorriso amarelo e dizer algo como “Está legal...”
Eu frequentemente cometo ‘sincericídio’ (o suicídio social por dizer a verdade, doa a quem doer), e talvez por isso, as pessoas acabem se afastando de mim. Bem, devo dizer que algumas se aproximam justamente por este motivo. É que eu às vezes não consigo controlar a minha indignação ao ouvir certas bobagens. Não consigo apenas balançar a cabeça, disfarçar com um sorriso e olhar a paisagem enquanto alguém declara algo que é mentiroso, prejudicial ou preconceituoso. Minhas mãos tremem, o coração acelera, a boca abre... e a voz sai.
Pronto: estraguei tudo de novo. Logo agora, que eu prometi a mim mesma que não ia mais dizer tudo o que eu penso.
Existem mentirosos compulsivos. Eles mentem o tempo todo, sobre as maiores ou menores coisas. Já tive alguns amigos assim. Eles são bem irritantes. É só você contar uma história qualquer e eles logo contam uma parecida sobre um tio ou amigo distante. Basta que você diga que não sabe fazer alguma coisa e eles se dizem especialistas. Este tipo de mentira, além de não prejudicar ninguém, pode até soar engraçada. Quando eles vão embora, é claro.
Mas aqueles mentirosos que gostam de esconder certas informações a fim de controla-las – por mais inocentes que estas informações possam ser – me irritam profundamente. Eles gostam de saber mais que os outros. Gostam de decidir o que contar e o que não contar, o que os outros podem ou não ficar sabendo, segundo os critérios deles. Gostam mesmo é de se sentirem poderosos. Dizem que o outro não é forte o suficiente para ficar sabendo de uma verdade, e desta forma, mantém tal pessoa sob suas asas sufocadoras o tempo todo enquanto alegam que os estão protegendo, quando na verdade, eles têm o ego inflado. Gostam que os outros os olhem como bons samaritanos.
E finalmente, existe aquele mentiroso manipulador mesmo. Mente para se dar bem, ganhar a confiança alheia e depois apunhalar as pessoas pelas costas. Estes são os mais perigosos, pois mentem porque são maus, e não sabem ser de outro jeito. Graças a Deus, tenho um ‘feeling’ ótimo para identifica-los e ficar bem longe deles. Com um pouco de prática e observação, qualquer um consegue também. Basta tirar os óculos cor-de-rosa e olhar as pessoas como elas realmente são, mas sem criar neuroses, pois afinal de contas, todos mentimos.
O importante é, antes de mentirmos, nos perguntarmos o porquê de estarmos fazendo isso. Existem algumas boas razões para mentirmos, mas elas são poucas, e existem muitas más razões para mentirmos, e elas são muitas. Antes de abrirmos a boca para contar uma mentira, devemos pensar se, na verdade, não estamos mentindo para nós mesmos. Quando mentimos sobre coisas importantes, muitas vezes mentimos para enganarmos a nós mesmos. Se mentimos para as pessoas que nós amamos, é porque sabemos que a nossa verdade real poderá nos ferir. Talvez tenhamos preguiça de admitir certas coisas a respeito de nós mesmos e de nossas próprias vidas, o que nos obrigaria a aceitar mudanças que nos tirariam da zona de conforto.
Por exemplo: aquela pessoa que se droga, mas esconde de todos. Ou o cônjuge que trai seu companheiro(a) e se sente muito mal por isso.
Mas embora encarar a verdade possa ser difícil e doloroso no começo, depois isso se torna natural. Não termos que mentir para nós mesmos nos alivia de um grande peso, pois é como se uma carga inútil e enorme estivesse sendo tirada dos nossos ombros para sempre; passamos a caminhar com mais leveza. E o mais importante: não teremos mais necessidade de mentir para os outros. Nunca mais magoaremos alguém que amamos por causa de mentiras.
Uma grande mentira está sempre cercada de outras mentiras grandes, pequenas ou médias que devem sustenta-la. É um jogo perigoso, pois ninguém tem uma memória tão boa a fim de conseguir lembrar-se de todos os seus argumentos mentirosos. Mais cedo ou mais tarde, acabarão dando com a língua nos dentes e cometendo alguma gafe que os exporá e às suas mentiras.
Quanto a mim, eu prefiro ser conhecida como uma pessoa que às vezes comete sincericídio do que como uma mentirosa. E quanto a você?