No primário
No grupo escolar, onde fiz o (extinto) curso primário, recordo a hora do recreio, intervalo das aulas para alunos e alunas relaxarem a mente.
Brincar.
A cabeça cheia de números, geografia, português, ciências, história. Recreio era o momento de “queimar calorias”.
Respirar, refazer as energias, após horas sentado, prestando atenção às aulas, às explicações da professora.
E tomar mingau de fubá, amarelado, vitaminado. Todos gostavam. Eu também, claro.
O alimento era feito às pressas, sem tantos cuidados. Por isso era tão apetitoso, gostoso.
A molecada aguardava, ansiosa, essa hora. Escola pública é lugar de aluno de baixa renda. Da periferia, baixada.
Baixa renda quer dizer viver na escassez, em quase tudo. Hoje essa realidade (pobreza) permanece, infelizmente.
Alimentação deficiente é um, entre muitos entraves, a atravancar a vida da classe baixa.
De lá para cá ainda permanecem esses problemas. A escola pública é a mesma. E o país não avança.
Muda-se uma nação com educação de qualidade. Acredito que qualquer leigo saiba disso.
Quando a campainha tocava, anunciando o recreio, começava o rebuliço: meninos e meninas correndo, como desesperados, para o fundo da escola.
Lá ficavam os panelões, uns quatro, com mingau. Às vezes havia repeteco, um segundo copo.
A correria era para pegar os primeiros lugares. Era um empurra-empurra. Os mais espertos querendo ficar na frente do outro.
Com uma concha os serventes colocavam o mingau nos copos. E dava para matar a fome, ao menos por umas duas horas.
Detalhe, cada um levava seu canelo, de plástico ou alumínio. Com alça.
Os moleques, depois, iam jogar futebol. Alguém aparecia com uma bola. “O couro comia”.
As meninas brincavam de “pira” ou “cemitério”.
O prédio da escola é o mesmo. Está em péssimas condições. Vejo o estádio estadual de futebol, todo acabado, novinho, bonitinho.
Não sou contra futebol, nem contra o estádio. Não.
Mas as escolas deveriam ser espaços mais cidadãos, mais arrumados, confortáveis. Elas – escolas – a maioria delas encontra-se assim, instalações precárias, goteiras, ventiladores desabando.
Os governos ainda têm o desprazer de reduzir o orçamento para a educação. Nação a caminhar para trás. E com indícios de ser colônia, de novo.