ANSIEDADE É A MENTE INDO MAIS RÁPIDO QUE A VIDA

Em uma quinta-feira no mês de agosto, eu acordei diferente.

Cinco ou seis noites seguidas que eu mal dormia.

Era uma mistura desordenada de pensamentos, o meu coração estava agitado, eu não conseguia engolir o que preparei para o café da manhã, um tremor gélido e um suor viscoso banhava o meu corpo. Um estranhamento incomum com a minha própria imagem ao olhar no espelho. Meu abdome revirava e estava inchado como se eu tivesse engolido um elefante na noite anterior. Observei ao meu redor e parecia que eu estava em um filme... tudo em câmera lenta. Algo estava bem errado dentro de mim... mais especificadamente, dentro da minha cabeça.

Iniciei aquele dia com uma angústia inexplicável. Um medo surreal de ter uma parada cardíaca, de uma barata voadora entrar pela janela, invadir a minha boca e eu morrer sufocada... ou de uma veia estourar no meu cérebro, assim, de repente. Eu não conseguia racionalizar o fato de eu ser um indivíduo bastante saudável, sem problemas preexistentes. Eu só tinha certeza que iria morrer, e seria naquele dia.

Mas eu não podia morrer! Eu era jovem, tinha uma filha linda pra criar, um parceiro maravilhoso, tantos projetos de vida, um doutorado para concluir, diversas reuniões no meu trabalho... Como assim MORRER?!

Mais tarde as minhas mãos e o meu braço esquerdo anestesiaram. Meus ouvidos zumbiram como se insetos estivessem alojados ali. Meu estômago revirou-se em uma náusea desenfreada. Eu perdi o tato da ponta dos dedos, a dormência começou a subir até o meu pescoço... e o meu coração disparou! Na minha cabeça só passava uma coisa: ou eu estava tendo um AVC ou o meu coração havia decidido parar de vez. Eu estava dirigindo, tinha acabado de deixar a minha filha na escola, estava sozinha, rumo ao meu trabalho e era preciso estacionar o carro em algum lugar.

Eu só me lembro de ter sentido o meu pescoço ser espremido como se alguém me sufocasse. Eu não conseguia respirar, não tinha nenhum controle sobre expirar e inspirar, não conseguia me acalmar e, arfando, comecei a arranhar a minha garganta de cima para baixo como se isso pudesse facilitar a passagem do ar. O que ocorreu na sequência é difícil até de descrever, e, confesso, ensaiei mentalmente várias vezes até tomar coragem de registrar aqui.

O planeta parecia ter parado, assim como no filme antigo do Superman. A minha audição ficou totalmente comprometida, já não existia o mundo “lá fora”. Eu perdi a noção do tempo e do espaço e dentro daquele carro enfrentei a pior e mais intensa sensação física e emocional que eu já havia sentido em toda a minha existência! Comecei a chorar, gritar e me debater descontroladamente, aquele era o meu fim! Na sequência irradiou, partindo da sola dos meus pés para o restante do meu corpo, uma onda de calor que ardia e parecia explodir todas as minhas células. Assim como fogo em palha, essa onda forte tomou conta rapidamente do meu corpo inteiro, retesando os meus pés, mãos, mandíbula e a minha boca, que se repuxou para baixo como na máscara do filme “Pânico”. Eu não tinha mais a flexibilidade dos meus dedos para pegar o celular e fazer uma ligação pra pedir ajuda. Eu não conseguia me mover, endurecida por todo aquele terror!

Os meus batimentos cardíacos dispararam de uma forma extremamente intensa e descontrolada. Eu sentia o meu coração pulsando na minha garganta, minha cabeça explodia de dor e não tenho palavras para expressar o que é estar parado, sem se mover, sem ter feito nenhum esforço físico ou exercício intenso, com o corpo totalmente retesado e com o coração a 160 batimentos por minuto!

Com a garganta seca, o choro descontrolado, arfando em busca de ar, tentei abrir uma garrafa de água mineral que estava no carro e, depois de algum esforço com as mãos tesas, abri e engoli alguns goles, derramando boa parte do conteúdo na roupa e no veículo. Eu só tinha uma única certeza: havia chegado a minha hora.

Naquele momento eu morri...

Mas agora passo bem.

[continua]

Se um dia você se perceber “diferente” assim como eu descrevi no início do texto, procure ajuda profissional.

Se for alguém que você ama, entenda: ansiedade não é frescura. Ansiedade não é brincadeira e não vai passar se a pessoa somente respirar fundo ou tomar um copo de “água com açúcar”, muito menos vai passar se ela for “lavar uma trouxa de roupas”.

Ansiedade é algo muito sério. Ansiedade é um problema de saúde que precisa ser tratado como qualquer outra patologia.

Ansiedade, em resumo, é a mente indo mais rápido que a vida.

[Nívea Almeida – 13.08.2019]