As bruxas andam soltas
Sucessivos acontecimentos que nos entristecem ou que interrompem nossos momentos felizes fazem muita gente crer em nuvens de mau agouro, em tempos infelizes. Os gregos dividiam o tempo em ciclos do ouro, da prata, do bronze e do ferro; e, pelo valor desses minérios, o leitor compreende suas correspondências..., quase como o sonho de José do Egito que previu tempos de vacas magras e tempos de vacas gordas alimentadas pela fartura do trigo. Quando era assim, os egípcios viviam muito bem e ainda alimentavam Roma de pão, mesmo tendo aquela cidade recursos para viver o apogeu do seu Império. Mas, independentemente da lavoura, há tempo que parece sinalizar não bons presságios. Longe dos campos ou não, nas cidades, ocorre uma constância, inesperada, de presságios que se explicam por superstições. Se estatisticamente, todas as vezes em que se passou por baixo de uma escada, então aconteceu um acidente, o supersticioso faz associações, ao ponto de evitar passar por baixo de uma escada, o que traria azar. É assim como se criam essas crendices.
Mas, ultimamente, está demais! Tem morrido muita gente amiga e do círculo dos nossos conhecidos. Surge a imaginação como se fosse a dos romanos sobre “os idos de março”, quando seria o tempo em que César, fatalmente, seria assassinado pelos senadores da República Romana. Embora, todos nós sejamos “marcados para morrer” pela natureza, a maldade humana ainda inventou a “morte por encomenda”, que é motivada pelo ódio, pela perseguição, quando alguém pretende pôr fim a um desafeto ou a uma causa econômica ou política, como foi o recente caso da heroína Marielle. Mas, independentemente disso, mesmo que não se valorizem tais explicações aziagas, está demais, surpreende-nos a quantidade de “morte morrida” acontecendo, especialmente de pessoas que nos são caras, vizinhos, perto das nossas casas.
Sempre há quem nos avise notícias fatídicas, tristes. Quando pergunta “Sabe da última?”, então lá vem o triste acontecimento. Ou pior: “Você conhece fulano?” E logo se indaga: “Morreu?”. Osvaldo Fiscal, habitué da sauna, tem um modo indireto, jocoso de comunicar tais desaparecimentos: “Desocupou mais um CPF”... Recebe risos, reclamações, mas, como se fosse vantagem saber antes dos outros, ele justifica: “Aviso porque estou vivo”; e assim a conversa continua. Mas, mesmo refletindo que estamos num longo caminhar e quem está já com muita estrada percorrida se encontre mais próximo do fim do caminho..., é, contudo, está demais! Já temo que o telefone toque, sobretudo quando se inicia indagando: “Você conhece fulano?” E a pergunta sai repentina: “Morreu?” Esclarece-se o engano: “Não! Casou”.
Repetição do indesejável gera superstições. Um dileto amigo, de cultura hispânica, advertiu-me de que “as bruxas andam soltas”. Imaginei-as como aves de agouro, voando, montadas em cabos de vassoura, mais rápidas do que nos tapetes do imaginário árabe. Voando sem asas ou soltas, eu não acredito nelas. Os espanhóis são clássicos nesse assunto; começam dizendo sem fé nessa misteriosa gente: “Me dijo que no era broma, que no creia”. Porém, logo esclarece: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”. Confessando temor, termino a crônica e, sem ser juramentado, dou fé à tradução: “Não creio em bruxas, mas que elas existem, existem”.
Sucessivos acontecimentos que nos entristecem ou que interrompem nossos momentos felizes fazem muita gente crer em nuvens de mau agouro, em tempos infelizes. Os gregos dividiam o tempo em ciclos do ouro, da prata, do bronze e do ferro; e, pelo valor desses minérios, o leitor compreende suas correspondências..., quase como o sonho de José do Egito que previu tempos de vacas magras e tempos de vacas gordas alimentadas pela fartura do trigo. Quando era assim, os egípcios viviam muito bem e ainda alimentavam Roma de pão, mesmo tendo aquela cidade recursos para viver o apogeu do seu Império. Mas, independentemente da lavoura, há tempo que parece sinalizar não bons presságios. Longe dos campos ou não, nas cidades, ocorre uma constância, inesperada, de presságios que se explicam por superstições. Se estatisticamente, todas as vezes em que se passou por baixo de uma escada, então aconteceu um acidente, o supersticioso faz associações, ao ponto de evitar passar por baixo de uma escada, o que traria azar. É assim como se criam essas crendices.
Mas, ultimamente, está demais! Tem morrido muita gente amiga e do círculo dos nossos conhecidos. Surge a imaginação como se fosse a dos romanos sobre “os idos de março”, quando seria o tempo em que César, fatalmente, seria assassinado pelos senadores da República Romana. Embora, todos nós sejamos “marcados para morrer” pela natureza, a maldade humana ainda inventou a “morte por encomenda”, que é motivada pelo ódio, pela perseguição, quando alguém pretende pôr fim a um desafeto ou a uma causa econômica ou política, como foi o recente caso da heroína Marielle. Mas, independentemente disso, mesmo que não se valorizem tais explicações aziagas, está demais, surpreende-nos a quantidade de “morte morrida” acontecendo, especialmente de pessoas que nos são caras, vizinhos, perto das nossas casas.
Sempre há quem nos avise notícias fatídicas, tristes. Quando pergunta “Sabe da última?”, então lá vem o triste acontecimento. Ou pior: “Você conhece fulano?” E logo se indaga: “Morreu?”. Osvaldo Fiscal, habitué da sauna, tem um modo indireto, jocoso de comunicar tais desaparecimentos: “Desocupou mais um CPF”... Recebe risos, reclamações, mas, como se fosse vantagem saber antes dos outros, ele justifica: “Aviso porque estou vivo”; e assim a conversa continua. Mas, mesmo refletindo que estamos num longo caminhar e quem está já com muita estrada percorrida se encontre mais próximo do fim do caminho..., é, contudo, está demais! Já temo que o telefone toque, sobretudo quando se inicia indagando: “Você conhece fulano?” E a pergunta sai repentina: “Morreu?” Esclarece-se o engano: “Não! Casou”.
Repetição do indesejável gera superstições. Um dileto amigo, de cultura hispânica, advertiu-me de que “as bruxas andam soltas”. Imaginei-as como aves de agouro, voando, montadas em cabos de vassoura, mais rápidas do que nos tapetes do imaginário árabe. Voando sem asas ou soltas, eu não acredito nelas. Os espanhóis são clássicos nesse assunto; começam dizendo sem fé nessa misteriosa gente: “Me dijo que no era broma, que no creia”. Porém, logo esclarece: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”. Confessando temor, termino a crônica e, sem ser juramentado, dou fé à tradução: “Não creio em bruxas, mas que elas existem, existem”.