Dificuldades emergentes
Dificuldades emergentes
É um exercício diário tentar ter tolerância por grupos menos tolerantes, sabendo que nem todos os indivíduos que pertencem a eles são assim. Eu mesmo já escrevi, por aqui, um texto curto comentando sobre o erro de se dizer que não existem ''preconceitos reversos'' contra ''maiorias', como no caso dos heterossexuais e brancos.
Mas não está fácil não... Pra mim, tem se tornado um exercício de tolerância ver casais heterossexuais com as mãos tranquilamente unidas no meio da rua e pensar que o mesmo gesto simples para um casal LGBT aumenta o risco de que completos estranhos partam para a agressão verbal e até física. De pensar quantos desses casais heterossexuais são de homófobos irrecuperáveis [equivalente a ver uma pessoa passando fome e outra devorando um ''hambúrguer'' enorme, ao lado].
De estar sempre tentando medir o teor das palavras para não concluir erroneamente que quase todo branco é estúpido e cruel, quando eu me deparo com várias pessoas brancas defendendo, da maneira mais analfabeta possível, os seus privilégios históricos bem como os seus erros, em termos coletivos (eleger um débil mental perverso, por exemplo).
De ver cristãos falando em nome do seu salvador e imediatamente o associando ao ódio que estão sentindo no momento e pensar nas pessoas com "religião' que são o oposto deste desequilíbrio. Ver youtubers, enfim... nossos cérebros estão programados para dar respostas rápidas, subjetivamente enviesadas e curtas, mesmo que compreendamos o básico de estatísticas e teoria dos conjuntos aplicados em contextos sociais.
O sentimento é como um termômetro e o preconceito equivale à sua febre, quando ultrapassa os 40 graus e passamos a ter delírios e suores na testa. O delírio mais comum é o de pensar que todo aquele que pertence a certo grupo, especialmente se for um grupo vagamente definido [brancos, por exemplo] em termos morais, é exatamente igual às suas maçãs mais podres ou talvez, um termo mais próximo da realidade, selvagens.
Na verdade, eu penso que, nesses momentos de tolerância, eu também estou buscando pela minoria mais frágil de todas, o indivíduo/a vida, bem como por aqueles que, mais conscientes ou não disso, também reconhecem nos outros aquilo que têm em comum, de mais significativo.